segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

AUTORRETRATO - ( O POEMA DA SEMANA- 2011/01/30) Do livro: "ESTRO DE MULHER"


AUTORRETRATO

( Poema em retrospetiva)

Meu rosto é moreno, ora calmo, ora nervoso,
Com cabelos castanhos, fortes e ondulados;
Olhos esverdeados, com olhar airoso
E uns lábios - que posso dizer - bem desenhados.

Meu nariz, não é recurvo nem levantado,
Nem estreito nem largo - um nariz vulgar;
E nas orelhas - de tamanho moderado
Uns brincos compridos, adoro pendurar!

E com o cabelo preso, ou em liberdade,
Neste rosto que zelo, com um certo agrado,
Muita gente me diz - e creio sem maldade
Que tenho um “ar”, meio exótico - aciganado!

E se acaso me dizem, ter feições bonitas,
Respondo, que não sou da mesma opinião;
E acredita, leitor, sem intenção de “fitas”
Bonitas não acho, – simpáticas serão…

Considero-me magra e de média estatura,
Membros com meu peso e tamanho condizentes;
Tenho ombreiras estreitas e fina cintura,
Todavia, ancas roliças e proeminentes.

E quando, por outro lado, me afirma alguém,
Que sou dotada, duma figura elegante…
Penso logo: ou me quererás, por demais bem,
Ou julgarás, que isso me põe hilariante!...

- É que elegante não sou, tenho a certeza!
Par’cerei talvez, ao usar calças compridas;
Que, de minhas pernas, ninguém nota a magreza,
E a atenção recai, em meu busto, nas “medidas”! -

O que não me deixarei, é ser complexada,
Que cada um, é o que é, não pode escolher;
E de ter magras pernas, pouco sofro, ou nada,
Pois creio noutros “pódios” de misse-mulher!

E no fundo, leitor - p’ra ser franca- agradeço,
Tal qual é, meu visual ao criador,
Porque o espelho, me não mente e reconheço,
Que pod’ria ter, uma figura pior…

Dou, por fim, meu visual, auto-retratado,
E numa autocrítica, de intenção discreta;
Duma mulher, tal qual outras, em vário lado,
Com o prazer de se dizer: mulher-poeta!

1989


domingo, 30 de janeiro de 2011

AUTORRETRATO -1983

* O prato é também de elaboração própria.

A BOLA, A CRIANÇA E O RELÓGIO - Do livro:"DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

A BOLA, A CRIANÇA E O RELÓGIO


É verdade, que o mundo, é uma grande bola
E que a vida nele, é uma frágil criança;
Como tal, enquanto essa bola, avança e rola
A criança a seu jeito sobre ela se lança.

Acreditada bola, por ser bem capaz
De rolar, dia a dia e sem jamais parar;
Mas a frágil criança, algo especial, traz:
Traz um próprio relógio, com seu compassar...

De corda curta, ou longa (esta por excelência)
Sendo dom, de animais e vegetais, somente
Chamando-se essa corda: prazo de existência;

Não permitir que pare, será certamente
Uma norma impossível de achar, na ciência
Que a lei da natureza… essa é intransigente!...
1965

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

OS VOOS DA MINHA POESIA - ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/01/28) Do livro : " VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


OS VOOS DA MINHA POESIA


 Se tento em voar voos diferentes
Em que outra liberdade é que os anima
Meus versos quase ficam renitentes
Que tentam escapar-se para a rima.

E se acaso o metro afasto, entrementes
Como que um espartilho, que me oprima
Choram pena e papel, choros plangentes
E o metro vitorioso, oscula a lima!

Gosto de rima e metro bem casar,
E fazer de meus versos, paladinos
De união co’ a rotina por norma;

Tem sido sempre assim o meu poetar
– A meus versos, rumar-lhes os destinos –
E raramente faço de outra forma.


2004

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O QUADRO MAIS TERNO - Do livro: "DEAMBULANDO, POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

O QUADRO MAIS TERNO


Bem escondido, está um quadro terno
E apenas nove meses – por ventura;
Chama-se o ser humano, em formatura
De estilo, se tão velho, tão moderno.

Sem que o verão o atinja ou o Inverno
Porque tem proteção, assaz segura;
– Sacrossanto prodígio da Natura –
E que se chama o útero materno.

Tela viva, que irá mudar de cena
Ao manter-se na estância já terrena,
Logo após nela feita, a investida.

E o naturismo exulta, chega a hora
Sorriem pai e mãe - seu filho chora,
É o amor triunfante; um hino à vida!
 
1998

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A TI, AMIGO ESPECIAL- (O POEMA DA SEMANA - 2011/01/25) Do livro: "ESTRO DE MULHER"




A TI, AMIGO ESPECIAL


A ti, amigo especial eu confio,
Meus versos, filhos de mulher-poeta;
Concebido, ante minh'alma em cio,
E vendo em ti, sua custódia predileta!

Olhando esses meus versos, vivo recordações,
Lembrando minh'alma engravidada, mil momentos,
Gerando frutos, de óvulos, chamados emoções,
Com sémens, chamados pensamentos!

Oh, como me doera, ao dar-lhes a vida!!!,
Por muitos deles, passei horas sem dormir…
Corajosa, sozinha, recôndita, recolhida,
E ante muito suor, na minha testa a cair…

Quantas vezes eu sufocara altos berros,
Valendo-me, de beniditista paciência?
E quantos versos meus, foram tirados a-ferros,
Os ferros, de minha vontade e persistência?!...

Mas com mais ou com menos dor, o importante,
É que, por todos, tenho muito e grande amor;
Bastando-me olhá-los, a qualquer instante,
Para a minha vida, ter muito mais valor!

Deixo-os, livre e espontaneamente nascer,
E sem pensar, em controlo de natalidade;
Acreditando, que quantos mais versos fizer,
Mais ficarei, realizada e rica de verdade!

Versos, filhos de “mãe”, que tanto se auto-preza,
(E que são esperanças, de sua imortalidade)
União de seu pensamento e alma, numa certeza:
São o símbolo, dessa harmoniosa fertilidade!

1989