AUTORRETRATO
Meu rosto é moreno, ora calmo, ora nervoso,
Com cabelos castanhos, fortes e ondulados;
Olhos esverdeados, com olhar airoso
E uns lábios - que posso dizer - bem desenhados.
Meu nariz, não é recurvo nem levantado,
Nem estreito nem largo - um nariz vulgar;
E nas orelhas - de tamanho moderado
Uns brincos compridos, adoro pendurar!
E com o cabelo preso, ou em liberdade,
Neste rosto que zelo, com um certo agrado,
Muita gente me diz - e creio sem maldade
Que tenho um “ar”, meio exótico - aciganado!
E se acaso me dizem, ter feições bonitas,
Respondo, que não sou da mesma opinião;
E acredita, leitor, sem intenção de “fitas”
Bonitas não acho, – simpáticas serão…
Considero-me magra e de média estatura,
Membros com meu peso e tamanho condizentes;
Tenho ombreiras estreitas e fina cintura,
Todavia, ancas roliças e proeminentes.
E quando, por outro lado, me afirma alguém,
Que sou dotada, duma figura elegante…
Penso logo: ou me quererás, por demais bem,
Ou julgarás, que isso me põe hilariante!...
- É que elegante não sou, tenho a certeza!
Par’cerei talvez, ao usar calças compridas;
Que, de minhas pernas, ninguém nota a magreza,
E a atenção recai, em meu busto, nas “medidas”! -
O que não me deixarei, é ser complexada,
Que cada um, é o que é, não pode escolher;
E de ter magras pernas, pouco sofro, ou nada,
Pois creio noutros “pódios” de misse-mulher!
E no fundo, leitor - p’ra ser franca- agradeço,
Tal qual é, meu visual ao criador,
Porque o espelho, me não mente e reconheço,
Que pod’ria ter, uma figura pior…
Dou, por fim, meu visual, auto-retratado,
E numa autocrítica, de intenção discreta;
Duma mulher, tal qual outras, em vário lado,
Com o prazer de se dizer: mulher-poeta!
1989