quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VERSOS RETIDOS - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/09/29) Do livro:(a editar)"ENTRE O ANTO E O ACANTO"


VERSOS RETIDOS
– Ao leitor –


Se julgas que uso a pena, com a ideia
De mostrar-te dons, na arte de escrever,
Não tenho tal intento, podes crer.
Em mim, não há vaidadae, assim tão feia...

É que não posso ver minha alma cheia,
De potenciais rimas, a “nascer”,
E ficar lesma ao sol – nada fazer,
Enquanto há musal seiva, em minha veia.

E se em meu reportório versos tenho
Decerto p'ra teus olhos, bom, manjar
Porém nunca o serão porque os retenho;

Vaidade em mim, talvez só neste aparte:
- E disso, não queiras criticar -
De bem retê-los - minha maior arte.


1984

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CIGARRA E FORMIGA - Do livro: "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

CIGARRA E FORMIGA


Com alma entregue às cordas da guitarra
Eu sou uma cigarra, que te canta
Sem temer põr-me rouca da garganta
Fazendo então da vida, doce farra.

Porém - a par de ser assim bizarra -
Sou também formiga, em labuta santa
E que com diligência, da que espanta
Hoje guarda alguns versos e os não narra...

E de um assim agir, eis a razão:
Não te quero induzir sofreguidão,
Mas que meus versos leias de devagar;

Por isso, até vou dar-te o meu palpite,
Reserva lá um pouco do apetite
Para alguns que acabei de te guardar.

                                                                            1991
 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A ANTERO DE QUENTAL - (O POEMA DA SEMANA 2011/09/26) do livro: "ESTRO DE MULHER"

A ANTERO DE QUENTAL


Essa tua barba, tão majestosa e hirsuta,
A defendeste com “garras” bem afiadas,
Transformando, tua existência numa luta…

E (por estratégias, tão a peito levadas)
Os teus ideais pátrios (teus grandes suspiros)
Eram gritos, em tuas prosas panfletadas….

Ah idealista bem “alto” e “gordo” de embirros…
Ah dócil Mestre, tão propenso a azeda gana,
Quantos foram, teus inexoráveis espirros?

P’ra uns, sacana, outros, a pessoa mais sana;
Umas vezes crente e temente, outras ateu,
E tantas, um sedente da paz de Nirvana!

De qualquer forma, honorável epicureu!
Que davas a tua alma, sã vitalidade,
Atarefando-a com as lides de morféu!

E por tua inaudita sensibilidade,
O pitoresco pouco ou nade te dizia,
Amando bem mais as sombras, que a claridade…

Se nunca ânsia de fama, confessaste um dia,
Quantas outras ânsias, deixaste transbordar,
Fruto de tua madura filosofia?

Com o teu tão desenfreado “galopar”,
(Consciência em conflito e pensamento exigente)
Não admira, que à depressão fosses parar….

Mas (quer assim contigo mesmo intransigente)
Ou co’os outros, orientador de pulso forte)
A tua barba, veneraste realmente!

Só que a certo ponto, ficaste tão sem norte,
(Com a tua alma de tal modo comprimida)
Que acabaste, Antero, por encontrar, na morte,
O melhor de todos os ideais de vida!

1991

sábado, 24 de setembro de 2011

A UM INICIADO ARTICULISTA - Do livro:"DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

A UM INICIADO ARTICULISTA

Faz por bem te embrulhar na tua lida
Que irás expor-te aos olhos do mundo;
E cria um reportório – se fecundo –
Deveras surpreendente, na medida

P’ra isso, bons preceitos introduz
Dando nalgumas coisas, certo abano
E até que alcasnces mesmo, ideias-luz

Não sejas do marasmo, entusiasta
Mas a casos pendentes, dá vigor;
E - crendo o narcisismo enganador-
Do auto-deslumbramento, sempre afasta.

Quanto às informações de mais fiasco,
Fá-lo sempre, de modo imparcial;
E dos alvitres teus... "Moita-carrasco"!

2009

  

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

AO POETA - entre quinta e sexta-2011/09/22) Do livro "ESTRO DE MULHER"


AO POETA


Agarra sempre a inspiração, poeta,
Senão podes torná-la foragida;
Recusa-te, a fazer-lhe despedida,
Não a queiras deitar, nunca à sarjeta…

Sorri-lhe, mesmo que até obsoleta!,
Mesmo que até te surja denegrida;
Deixa-a ser, como ela é: Assumida,
E bem retrata a sua silhueta!

Se ela é digna de ti, tu de ela és,
Luta por ela, ajoelha a seus pés,
E agarra-a firme, nessa tua estrada;

Que eu já a abandonei uma vez, sim,
E quando a “campainha” soou trrim,
Era ela, era; mas “mascarada”...

1997


terça-feira, 20 de setembro de 2011

A UMA VELHA LANTERNA - Do livro: "ENTRE O ANTO E O ACANTO"



A UMA VELHA LANTERNA


Quantas lágrimas oh velha lanterna, viste rolar?
Não careces falar, pois não constitui sigilo
É lógico que esse homem até então mais tranquilo
Apelasse a ti, na sua derradeira batalha, a travar!..

Mas de que estratégias te servirias, p’ró ajudar?
Como o poderias, sua velha e fiel amiga, naquilo?
Se já não viam teu crepúsculo os olhos de Camilo
Se eles que salutares foram, só poderiam chorar?

Como o poderias, se o destino lhe fôra adverso?
Se lhe tinha arremessado a cegueira, como lança,
Par’cendo incomodado, com todo o seu sucesso?

Mas logo após o suicídio do Mestre, sentiu-se riu
E vendo o “peso” de seus escritos, na balança
Concedeu-lhe o dom da imortalidade, como troféu!


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A BOCAGE (O POEMA DA SEMANA - 2011/09/19) Do livro: "ESTRO DE MULHER"


A BOCAGE


No palco da vida, foste cavando abismo,
Revestindo a prosa do mais grosso cotim…
Mas como essa tua alma continha lirismo!

Como ela usava o mais paladino cetim!
O mais magistral nume e sensibilidade!
Como ela, tanto chorava no camarim…

Como, por ti, se constrangia de verdade!,
Dessa tua vida, em corda bamba, sem rede:
Dos jogos, a boémia e amor, em liberdade…

Parcos recursos, e dessa Índia tanta sede…
Mas ante a ideia de gentes desconhecidas
Que dilema esse teu, entre a espada e a parede…

Se, em Goa e Damão te deste a bélicas lidas
Que ventanias, te levaram para Macau,
Oh desertor, das mil e uma ânsias incontidas?

Fortes torrentes, para tua débil nau,,,:
O amor à pátria, te fazendo soluçar
E os vícios a te arrasarem, oh Galalau…

Terias mesmo que a teu país regressar,
Quanto cansaço em ti e ainda uma criança…
Vinte e cinco anos só, poderias mudar!

Se a nova arcádia, te dera aval de confiança,
Que pena, a tua satírica prosação,
A tua musa, bem mais picante que mansa…

Mais pena, esse teu desaire sem compaixão…
Oh Bocage, quer tu brincaste com o fogo,
E de Pina Manique, não viste perdão…

Entre masmorras algentes, tu viste logo
O resultado de teu tão dúbio viver,
Em vai as lágrimas, as musas doces e o rogo….

Já não podias, teu remorso combater…
Tu tinhas maltratado, teu próprio destino,
E era tarde Bocage… tinhas de sofrer…

(Ermo de mulheres – musas de verso fino,
Um presidiário, com suores febris…
Um palhaço esfarrapado, Elmano Sadino…)

Ao menos, que “limaras” teu marco infeliz,
Que nos conventos, conheceste o serenar,
Foram calmantes, p’ra teus passados Abris….

Mas e depois? Como irias teu pão ganhar?
Sem emprego, qual não seria a tua dor?
E p’ra mais, com tua irmã p’ra sustentar?

Nem mesmo, te agarrando como explicador,
Nem mesmo assim, superaste tua desdita
Que chegaste a conhecer, miséria de horror…

E quando a ideia de suicídio, te crepita,
Dela te salva, o teu espírito cristão!
Teu amor a Deus! Tua devoção bendita!

A fieis amigos, abres teu coração,
(De curar mazelas, ávido como lobo)
Te mitigam: miséria, fome e frustração….

E ante a chegada da doença, ainda tão novo,
Arrasando-te a fé, duma vida diferente,
Concluis, ter feito, na vida, papel de bobo…

Crês. Ter sido do Céu, sacrílego inclemente,
Que por tal, te dera a paga merecida…
De ti mesmo, és um inimigo irreverente…

Raivas de poeta-palhaço, alma dorida
Percepção da hora final, batendo à porta!
Cabeça quente, de criatura empedernida….

Porque, oh simbolista do amor e sorte torta,
Na alma da tua alma, teu maior alento,
A tua maior esp’rança, não estava morta!

Os teus tão sentidos versos, esse portento,
Iriam surgir nos astros, tinhas razão;
São obras-primas, de real deslumbramento!
Os autores da tua canonização!

1992

sábado, 17 de setembro de 2011

POETA DE INTERVENÇÃO - Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

POETA DE INTERVENÇÃO



De um gole e trago, dado de uma vez
Parte o poeta – avisado de urgência –
Disposto a interventiva insurgência
Porém com mais de ordeiro, que soez.

Quer numa escrita, ou oral entremez
Quer no panfleto ou canto de valência
Reprova exploração e prepotência
De algum do patronato mais burguês.

Paladino, de férreas convicções,
– Bem patentes, perante intervenções –
A graves represálias, que se arrisca;

E quer por verso, prosa, ou por panfleto
Por vezes chega a casa, de olho preto
Numa fúria, que quase faz faísca!


2009  

                     

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

POETA QUE ENJEITA LOURO - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/09/15) Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


POETA QUE ENJEITA LOURO


Também há muito poeta, a enjeitar louro,
Aspirando só, bem honrar o mote;
Nem que um certo extremismo até denote
Ou arriscando mesmo, o próprio “couro”.

Os artigos do mais festivo “estouro”
Por vezes, põe em monte, num  caixote;
Mesmo a cada conjunto de um pacote,
Destrinça bem plaquet, do que é bom ouro,

Quanto mais comum bem, 'inda mais justa,
Lhe chega a musa, em rasgos de ideal,
E um tema assim, a veia mais lhe adusta;

Por isso, de tais versos, um sinal,
E em que algo melhorou à sua custa,
De “louro” algum, terá prazer igual!
l

2009
                      

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O SONHO DO POETA - Do livro:"DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"



O SONHO DO POETA

Sonha arranha-céus ter, feito em boa poesia
– Autêntica, altaneira, plena de sentido –
De banais versos, dá como tempo perdido
E inseguros tijolos os crer – mera utopia...

Ambição doentia  e prazer descabido...
Que dessa obra assim, o poeta arranjaria
A tal arranha-céus, cair co’a ventania,
E ele ficar por baixo, estirado ao comprido...

Crê coisa muito firme, a matéria poesia,
Dando em morosa obra e com complicação
Não bastando no metro e rima usar rigor;

Porque exige ousadia - tal literacia -
Ciência - quanto basta- carga de razão,
Criatividade sã e  “argamassa” interior!

1990

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

UMA ALIANÇA DE FAIANÇA- (O POEMA DA SEMANA- 2011/09/12) Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

UMA ALIANÇA DE FAIANÇA


O poeta fez aliança de faiança, com a musa
Sempre pronta a pôr-lhe à prova a sensibilidade
Lançando-lhe refinada seta embebida em inspiração
E acertando-lhe no cérebro, (começo da veia poética)
Que assim dilatada com a tão ditosa carga inspiradora,
Expande-se por toda a restante componente física e psíquica,
Levando-o a aperceber-se dessa musal e maravilhosa benesse,
E dando voltas e reviravoltas, com sentido de responsabilidade
É que ele vê na poesia um acto do mais sublime respeito;
Repensa-a com toda a ternura e passa noites em claro
Abdica de muita coisa que carece, para se lhe dedicar;
A musa se contente mete-lhe o braço com concomitância,
E sendo de noite com intenso luar, acabarão por dançar.

Mas se por qualquer razão o nume do poeta fraqueja
Ela ordena e grita-lhe, como tendo-o por débil criança
E até mesmo por vezes, dá-lhe um impulsionador abanão
Que o animará a cumprir tudo o que ela lhe exige ou deseja

O sorriso da musa é um importante voto de confiança.
E por isso, ele tem -lhe tanta admiração, quanto apreço;
Mas ela só não quer que ele deixe a poesia no peito hermética
Tenha muito de verdade ou meramente mito ou magia
E seja clássica, moderna, exótica rebelde ou eclética;
Há que ele extravasá-la, deixando-a em papel impresso
Essas linhas porque é composta e posta nesse papel
(Sobre uma mesa, um colchão, no fundo dum cadeirão
Ou colando o papel ao vidro duma varanda, ou janela)
É o fruto do acto inspirador, que implica um vero dedicar
E se tantas vezes com os pés assentes em robusto soalho
Outras tantas no asfalto enregelado ou demais adustente
Ou com eles, sob um silvado, um lamaçal ou bloco de gelo.

É a isso quiçá, que o poeta deve maior portento num verso;
Que no tempo gasto em busca dum melhor conforto pessoal
A musa poderá “partir”, para cumprir outra inspiradora valia,
E na volta ele, dela colher uma aura musal, menos profunda.

2008 

sábado, 10 de setembro de 2011

DO FUNDO DO CORAÇÃO - Do livro: "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"



DO FUNDO DO CORAÇÃO
Agradeço-te amor e reconheço
De tuas palavras, toda a ternura;
E também desse teu rir, a frescura
Além de por meus versos, teu apreço.

Quando afirmas amar-me, logo aqueço
E meu sangue em bendita diabrura
É fogo nas minhas veias – sã ventura,
E do resto do mundo, até  me esqueço!

O amor na tua boca, que bem soa!
És um misto de afeto, honra e de charme,
E causa-me a mais plausível vaidade!

Só contigo eu me sinto mais  pessoa!
Melhor que ninguém sabes cativar-me!
O nosso amor é lindo de verdade!!!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

REPARA AMOR ( ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/09/08) Do livro: VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


REPARA AMOR
Repara amor, no nosso amor tão lindo
E como ele é toda a nossa alegria;
Repara como cresce dia-a-dia
Mercê de muito nele ir investindo!

Vê como é sério e nós tanto rindo
E o quanto causa inveja e arrelia;
Vê como ele resiste à ventania
Amor Divino assim, será infindo!

Ah como rejubilo, quando lembro,
Esse dia, desse mês de Dezembro
Em que cumpríramos o prometido;

O nosso olhar, o sim, quanta ternura!,
Numa aliança p’rá vida futura,
P’rós dois a vida tinha mais sentido!!!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

CANTAR-TE AINDA MAIS EU CANTARIA… - Do livro"ENTRE O ANTO E O ACANTO"


CANTAR-TE AINDA MAIS EU CANTARIA…

De ti, não há lembrança que eu despiste
E negue, ao coração, seu palpitar,
Mas sempre lhe permito um agitar,
Desde que em minha vida, amor surgiste!

Cantar-te ainda mais eu cantaria
Mas esta emoção- por contra ou prós
Faz-me temer, embargo em minha voz,
E o canto o acusar – oh que ironia!

Quem me dera saber em mim o dom
De ter trinar escol, de ave canora,
Para amor, de bom grado e hora-a-hora,
Por certo cantar-te em bom-tom e som!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

DILEMA ( O POEMA DA SEMANA - 2011/09/05) Do livro " VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


DILEMA



“Ontem”para mitigar a pasmaceira,
Duma insónia, por demais excedente
Acordada, ocupava a noite inteira
Inventando o sonho, mais excelente.

Sim, se dormir não conseguia,
Ao menos fruía o sonho ideal;
Sabendo que por tal, muito sorria
E talvez com um sorriso angelical.

“Hoje”, que o meu dormir, é evidente
(E não sou do meu sonho comandante)
Padeço um pesadelo deprimente
Causando-me agonia asfixiante...

Sim, porque se dum luxo me granjeio,
Também por ele pago um alto preço
Porque no sonho, sofro de entremeio
Ânsias e medos, que não mereço…

Já não sei se é melhor, sono não ter
Para acordada, sonhar risos e zelos
Ou deitar-me e fruto do adormecer
Padecer aflitivos pesadelos...

Eis hoje o meu complicado dilema
(Qual das saídas a de menor custo?)
Fruir da insónia, com lauto esquema
Ou gozar meu sono, ante enorme susto?

1998


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SAUDADE - (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/09/01) Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"


SAUDADE
Quem me dera, saber nos meus cabelos
Passarem tuas mãos, bem de mansinho;
Nos caracóis mexendo um bocadinho
E dizeres-me amor, que os achas belos!

Ai quem me dera - autor dos meus anelos
Saber-te a suspirar por meu carinho,
Para com esperança cor de pinho
Traçarmos horizontes paralelos!

Mais queria: cumprir a presunção
De algures - num lugar, sem multidão
Me ouvisses alguns versos declamar;

Seria o mais ditoso de meus dias,
Porque ao pé de mim, tu estarias.
Meu sonho, do mais feliz acordar!

1998