quinta-feira, 31 de março de 2011

PARA SE AMAR ALGUÉM - ( ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/03/31) Do livro : ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

PARA SE AMAR ALGUÉM


Para se amar alguém, não há ciência
Basta maduro estar, o coração;
Apto a sentimental, ativação
Da sua interior polivalência.

Basta nele existir, lúbrica essência
E de sublimes asas, possessão;
De conter são lirismo, e ilusão,
P’ra dar e receber, ter apetência.

Tudo isso o faz pulsar, bem alterado
Ensimesmar-se, quando se deprima
Ou galvanizar-se, ao sentir-se amado;

E se a dita o anima ou desanima
Fá-lo chorar demais, seu próprio fado
E ao próprio saudosismo, adensar clima.
  

2009

quarta-feira, 30 de março de 2011

LÁSTIMA DE ALMA - Do livro: "DEAMBULANDO, POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

LÁSTIMA DE ALMA


Uma alma, em desespero e dor profunda,
Lá solta os seus lamentos e suspiros;
E às vezes, nem nirvânicos retiros,
Darão paz, a tão pobre moribunda…

Tolhida, por dor forte que a inunda,
Pior que mordedura de vampiros:
Pior que lhe lançassem alguns tiros,
E a metessem depois, em cova funda…

Sonhos em coma tem – pesar enorme,
Lúcida consciência, que não dorme,
Antes roçará mesmo a destroçada;

E já sem esperança, que lhe reste,
Então acha p’ra si, do Céu, um teste,
Numa morte morosa e adiada.


segunda-feira, 28 de março de 2011

ENTRE O NINHO E O MEDO - ( O POEMA DA SEMANA- 2011/03/28 ) Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"


ENTRE O NINHO E O MEDO

Faz uma ave o seu ninho
Na fronde ou beiral de casa,
Com tanto amor no biquinho,
E destreza em cada asa.

Põe seus ovos de mansinho,
E depois sobre eles jaz,
Com material calorzinho,
P’ró chocar ser eficaz.

Vão seus ovos estalando,
Tal como úteros se abrindo,
Para vidas começando
E instintos que irão surgindo.

E a ave mãe, com canseira,
Faz seu bico em bons auguros,
Ser como mão de parteira,
Ajudando os nascituros.

E lá voa sobranceira,
Na ideia de achar comida,
Que as crias, em piadeira,
Mostram carência de vida.

Da lufa, então volta e meia,
Traz sustento, ante agonias,
Temendo a cobiça alheia,
Roubar-lhe do ninho as crias.

E que um bicho esfomeado,
Prive-a da coisa mais quista,
– Que a vida lhe houve ofertado –
Cumprindo instinto egoísta. 

Ou a malvadez gravosa,
De matar só – a vontade 
Com arma ou fisga maldosa,
Entre mãos de crueldade!

sexta-feira, 25 de março de 2011

AMOR- PERFEITO - Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

AMOR-PERFEITO


Se é encanto amor-perfeito,
Num jardim, se contemplar,
É regalo em nosso peito,
Tão bela “flor” habitar!

Que ninguém queira o direito,
De encanto assim, ignorar;
Nem mesmo tenha o defeito,
De tão bela “flor”, roubar…

E por lá, de vez em quando,
Quatro ventos, se agitando,
Lhe soprem mágoa e querela...

Todo esse seu dramatismo,
Tem forte protagonismo,
No esplendor, duma novela!

2001

quinta-feira, 24 de março de 2011

ÀS SILVESTRES FLORES - ( ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/03/23) Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


ÀS SILVESTRES FLORES


Vós oh sóbrias e místicas silvestres flores,
E que tanta gentinha, porém nada liga…
Fazeis que esta curiosa e viva rapariga,
Por vós se reconheça inebriada de amores!

Porque o meu quintal tem, como que por vizinho,
Um espaço térreo, então abandonado;
E que vós, no Verão, honrais por todo o lado,
Com vossa cor lilás, do meu real carinho!

E grandes borboletas, chamais e alegrais,
Extasiando-me as graças – belamente estranhas –
De suas asas: brancas, fulvas e castanhas,
E quer com pintas, quer com riscas verticais!

Para essas criaturas, vós sois  sumidade,
A mais cabal das formas, p’ra medrarem bem;
Jus ao precioso néctar que de vós advém,
Como amas prestativas, de boa vontade!


1965

quarta-feira, 23 de março de 2011

PRAZERES DE CARACÓIS - Do livro - (a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


PRAZERES DE CARACÓIS



Eu presenciei deliciada, um dia,
Um espectáculo bem especial:
Eram caracóis, fazendo romaria,
Com seu vagar, num muro do meu quintal.

Tinham prescindido de seus afazeres,
P’ra despreocupados e prazenteiros,
Ante as benesses do rei dos prazeres,
Serem uns babosos caracóis romeiros.

É que esse rei generoso, que é o sol,
Dá regalo a todo e qualquer caracol,
Mesmo até do nosso próprio cabelo;

Se na nuca às vezes, os meus junto em puxo,
Bater-lhes o rei, é tal divícia e luxo,
Que ganham centelhas, do cobre mais belo!


1965



segunda-feira, 21 de março de 2011

CHEIRINHO A PRIMAVERA- (O POEMA DA SEMANA - 2011/03/21O Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"


CHEIRINHO A PRIMAVERA


Se ontem por demais chovia
Bem mais chuva se previa
E não assim um solzinho;
Mostrando-nos que o bem feio,
O triste e até mau tempinho
Já se encontrava a caminho
P’ra estagiar noutro meio!

– Oh que domingo, que calma!
E que alento para a minha alma
De me pôr congratulada;
Já que minha ânsia sincera
No sonhar da madrugada,
Era acordar, amimada,
Com beijos de Primavera! –

E eis-me chegada – expectante –
A um cenário deslumbrante
Na minha varanda airosa;
Pois num vidro e num fadário,
Uma andorinha vaidosa
Tinha no bico ar de prosa,
Respeitante ao calendário.

– Será que a sóbria avezinha
É mais uma musa minha
E inspiração me comanda?
Encantou-me co’a surpresa,
Pois por certo nesta banda
(Na minha querida varanda)
“Diz-me” algo da Natureza! –

Abri a varanda em par
P’rá andorinha voar
No seu opcional sentido;
E então logo da atmosfera
No olfato foi-me fruído,
Esse assombro repetido,  
De um cheirinho a Primavera


1971

sábado, 19 de março de 2011

RAIZES DA ALMA - Do livro ( já editado) "ESTRO DE MULHER"

RAIZES DA ALMA


Se alheios os recitam, na verdade,
Os versos às vezes, soam singelos;
Mas se o autor o faz, serão mais belos,
Porque lhesdá outra mimosidade.

Toda a carga de sensibilidade,
Que lhe levou a pena, a descrevê-los,
Atribuem-lhe às cordas vocais: zelos
Inimitável musicalidade!

Que outros os declamem, não autorizes,
Poeta – que a teus versos poderão dar,
Um rumo então dif’rente, esses juízes….

De tua alma imagem: teu declamar,
Alimenta só tu, suas raízes,
Quem melhor as pod’rá alimentar?
1989

sexta-feira, 18 de março de 2011

O DOM DA PALAVRA - Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"

O DOM DA PALAVRA


Quem tem assim um dom, que o bem mantenha
Lhe dê boas usanças – sãs posturas -;
Que de ocos cepticismos o abstenha
Vendo-o um garante de útil senha
P’ra alcançar, boa safra de venturas.

Que bafeje os dilemas, com branduras,
Mais o afinco de quem os bem desenha
E pinta – então isentos de urdiduras….

Dom de palavra, quer mudo quer aberto
– Carregado ou macio que nem pluma –
Pode estar num aceno, assaz desperto 
Em muito cordial abraço, ao certo
No olhar, (em gotas) lábios, (em espuma) …

De alguém, que mais aduba do que estruma
O seu próprio idioma – longe ou perto,
Nele muito capricha e bem se apruma!

2010

quinta-feira, 17 de março de 2011

EM BUSCA DA INSPIRAÇÃO, DITA PURA - ( ENTRE QUINTA E SEXTA-2011/03/17 ) Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"


EM BUSCA DA INSPIRAÇÃO, DITA PURA


Pugnando por fazer boa figura,
O poeta - de coragem sempre pronta
Entre as asas de Pégaso lá monta
Rumo à inspiração, pura e segura.

Voo, de tão cabal envergadura
– Apensado aos demais, que ele já conta –
Torna-o na fonte, em barata tonta
Até da inspiração, beber fartura.

E da sua sorte, ele em si nem cabe,
Se beber dessa água que bem sabe
Lá  volta ao domicílio, co’um sentido: 

Deixar de sua pena, no papel,
Desse facto, um retrato, bem fiel
Sem mesmo de um só traço, haver olvido!


2009

quarta-feira, 16 de março de 2011

CARISMA POÉTICO - Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"

CARISMA POÉTICO


Inspiração tão justa, quão profunda,
É como em linho renda ou entremeio;
Como aquele papiro, tendo em cheio.
Escrita de primeira e não segunda! …

De autor, em que um propósito o inunda
De a toda a falsa Egéria, pôr bloqueio;
E à torre de Babel, ir, sem receio,
P’ra nortear, quem nela se confunda…

E dispor de seu ombro, de bom-grado,
A bom pulso agitar uma sineta,
Atitudes em si de um são civismo;

E sempre com um rasgo sublimado,
Manter sanos preceitos de etiqueta
Com toda a elegância e maneirismo! 

  
2010

segunda-feira, 14 de março de 2011

PENSAR MEU - ATO CONTÍGUO?- ( O POEMA DA SEMANA - 2011/03/14) Do livro: "ENTRE O ANTO E O ACANTO"




 PENSAR MEU - ATO CONTÍGUO?



A minha agitação, tipo espontânea…
- Com um perspectivar de grão tamanho -
Faz-me reptos de musa, momentânea.

E lá me envolvo eu, em musal amanho,
- Sem que um desanimar, perto, se alape -
E acresço ao entender, se o não estranho.

P’ra que nada, o astral meu esfarrape,
- Nada altere este cerne, a meu estilo -
Canto felizes rimas, como escape…

Arrisco nalguns temas que vacilo,
E ante um fútil “papel”, ou vou p’la queima,
Ou com a absurda escrita, lá refilo…

Na minha ânsia pensei e expliquei-ma
Tornando meu fraquejo, em algo bélico,
Na conquista das coisas - jus a teima.

Mantenho o alimentar do estro, famélico,
Sempre co’o meio-termo, como um báculo
Em vez de um pundonor demais angélico…

Que exale a quanto baste, de vernáculo,
Valha por apertão, ou mesmo soco…
E que assim de meu ego um recetáculo
Sempre ressoe a algo e não a oco!


sábado, 12 de março de 2011

INTROSPEÇÃO - Do livro ( a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

INTROSPEÇÃO
          

Meia parte do mundo, de hora a hora
Afugenta o amor, feito um intruso;
Crendo num lado a roca, noutra o fuso
E que é assim que a vida, bem se explora.

Logo, de gente, tal parte, que se aparte
Será por crê-la opção de mais coeerência
E mero engano, um bem que muito enfarte…
E a que se deverá tal julgamento?
Arbítrio assim, que tende ao compulsivo?
Será mesmo a rotina, o grão motivo,
Tendo-a por obsoleto monumento?!...

E o "todo-sempre", então tornado em lenda,
Eis que finda união - feita aprazada - ;
Sem optar-se fazer-lhe a corrigenda...

2009

quinta-feira, 10 de março de 2011

DUM GENUÍNO CHÁ, SEM HORA - ( ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/03/10 ) Do livro:"PROPENSÕES MUSAIS"


DUM GENUINO CHÁ, SEM HORA


Se cheira a “rosmaninho e hortelã”
É boa educação, que no ar anda;
Que se acaso for má, essa tresanda
E há quem garanta ser, falta de “chã”…

Falta, que em vez de unir, demais afasta
Ou mesmo até envolve em soez trama;
Esfria ou gela mesmo, forte chama
Podendo ser razão de quem se agasta…

Logo desfeita assim, há que vaiá-la
Repetir-se em pensantes, não convém;
Já que há imensa gente a acusá-la
De coisa ser, que não cativa alguém.

E essa “falta de chá”, dada em estrago
Além de um falso beijo ou falso amplexo,
Será cá este mundo, a dar o pago,
É cá que punir-se-á o agir complexo.
  

2008

quarta-feira, 9 de março de 2011

VITORIADOR TOTAL - Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


VITORIADOR TOTAL


Sempre que tem de repto um confirmar
Consegue alguns receios, pôr de lado
E quando dá por certo, o triunfar,
De narcisismo, não mostra um esgar
Garantindo, transposto um tal estado;

Sobre a sua coragem impulsiva
Não há qualquer receio, que a afete,
E acredita o deixar “barco” à deriva
Deliberação, sempre negativa
Se o ato, cobardia em si reflete.

E quanto a garantia vacilante,
Crê da vitória o canto, algo insensato;
E duma sensatez bem revelante
Respeitar o rival –seu semelhante    
Sob a forma dum consciente recato.

2010

segunda-feira, 7 de março de 2011

DA INCLINAÇÃO À PAIXÃO- ( O POEMA DA SEMANA -2011/03/07 - Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

DA INCLINAÇÃO À PAIXÃO



Se aquando o despertar de uma flamância 
Há quem, a firme crença, pouco custa...
Há quem opte manter certa distância
No sufocado ardor, ou inconstância,
De toda a relação, pouco robusta….

Usar desse protótipo pragmático
– E sem apadrinhar meio-termismo –
Tem um concerne em si, bem sintomático,
De ser de alguns desaires, profilático
Como: o asselvajar e o comodismo...

E o juízo ao meio-termo assim abstémico
 -Perante avaliação-comparação -
Prefere solidão e riso anémico
De que viver só algo de epidémico,
Numa fugaz paixão, ou atração...

Que ao certo é compromisso-remedeio
Todo o que na lascívia pura invista...
Enquanto a relação de forte “esteio”
Se der, apenas é, algum receio
De que por pouco tempo, então resista...

Por isso em toda a flama que desponta,
– Em toda a sensação, tipo estupenda –
Há que a química ter-se sempre em conta,
Dando-lhe de aquiescência, a justa monta
P’rá consciência não nos dar contenda!

2010


quinta-feira, 3 de março de 2011

AMOR - CURATIVO ( ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/03/3 ) Do livro : "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

AMOR- CURATIVO


Desarmonia, em surtos de derrama
Causam dor ao temente e ao pagão
E a fé num novo verde, panorama
Às vezes, impõe-se à resignação.

Amor que decai, já não se reclama
E há que perspetivar separação,
Para tratar da chaga, que foi chama.

Um tal rasgo - quiçá imperativo
Pode ser o melhor solucionar;
Dando azo a outro amor - bom curativo,
Se ao nível de ideais, se suplantar -

E assim  num coração, um incentivo.
Fá-lo em verdes sonhos, badalar
Convicto, da ventura em decisivo!

2008