quinta-feira, 30 de junho de 2011

ALEGRIA PARA O MEU ROSEIRAL- (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/06/30) Do livro: (a editar)"VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

ALEGRIA PARA O MEU ROSEIRAL

 
Há dias, um pardal saiu do ninho,
E bem perto de mim, pôs-se a mirar
Uma toalha, em puro e fino linho
E que há um bom tempinho, ando a  bordar

São rosas de um vermelho muito quente
O tema deste meu labor bordado;
Mas seria por vê-las simplesmente
Que estaria o pardal, tão encantado?

Ou então.mastrar-se-ia assim atento
Já que aperceber-se-iam seus sentidos:
Do quanto será meu contentamento
Neste vaivém, de gestos repetidos?

Só sei, que o seu chilreio trivial
 E o grácil saltitar - por acrescência
Fez-me ver, na toalha um roseiral,
Na fase mais feliz, da florescência!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

OLHEI A LUA, LÁ NO ALTO - Do livro: "ENTRE O ANTO E O ACANTO"


OLHEI A LUA, LÁ NO ALTO



Olhei a lua, lá no alto,
Que me par’cia sorrir
E desejei, num só salto
Podê-la então atingir!

Contar-lhe os meus e saber
Seus segredos, amiúde;
E o que costuma fazer
P’ra manter a juventude.

E se esse seu visual
Será obra do infinito
Já que não é sempre igual,
Porém sempre tão bonito!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

OS MEUS AMIGOS - (O POEMA DA SEMANA - 2011/06/27) Do livro: "ESTRO DE MULHER"

OS MEUS AMIGOS


Tenho uns amigos, que são geniais!!!
Será que, do meu dito, alguém duvida?
São os livros, revistas e jornais,
Que leio e releio durante a vida!

Tenho outros, que são espectaculares!
– Que tanto me falam, porém calados –
São: os meus espelhos rectangulares,
Os redondos, os ovais e os quadrados!

E outros amigos desinteressados,
Tenho à minha plena disposição:
As doces sombras e os ternos relvados,
Aquando as terdes quentes de verão!

Tenho muitos, a quem chamo queridos,
Já que por eles, tanto me derreto!:
São meus castanhos cabelos compridos,
Que umas vezes eu prendo, outras liberto!

Todavia, os que eu adoro bem mais,
– Os que mais alegram o meu viver –
São: os meus semelhantes, meus iguais,
Os que me estendem a mão, com prazer!

Por todos estes amigos me enleio,
No entanto, mantenho-me acautelada,
Pois de alguns, tenho cá certo receio,
Que me possam “morder” pela calada…

Outros, parecem, não me abandonar,
Quando tenho comigo algum dinheiro;
E quando não tenho – p’rós encontrar –
Então, parecem agulha, em palheiro…

E acho que meus amigos, desprendidos,
– Meus amigos, realmente a valer –
São os que procuram – mas escondidos –
Ajudar-me , mas sem eu o saber!


1976

sábado, 25 de junho de 2011

GOSTOS DE VERÃO - Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


GOSTOS DE VERÃOAi como eu tanto gosto no verão
Quando a tarde se torna uma braseira
Comer uma fatia de melão
Regada ao certo tom e sã maneira.

Ouvir esse melão, forte a bufar
Mal a faca lhe toque a prima vez
E logo ver alguém regozijar
Pela ditosa compra que então fez.

Depois tentar dormir minha sesta
Em relvado, onde o sol tenha fugido
E sonhar co'o melão que 'inda nos resta;

Assim - com o jantar, depois servido -
Ver nossa sobremesa, dar em festa
Co'o resto do melão, a ser comido.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

PASSARADA EM GORJEIO ESTIVAL - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/06/23) - Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"




PASSARADA EM GORJEIO ESTIVAL
Eis que rompe a manhã; começa o coro
Como que um apostar da passarada ;
Dum tempo promissor - boa cartada
E vingando do Inverno, o desaforo…

Rogando à natureza em tom canoro
Que em vez de mandar grande chuvarada
A mande só, se em pleno desejada
E sem que passe, as raias do decoro…

Desse belo  gorjeio, em apoteose,
– Com cada um no galho, em grácil pose –
Consta: o pardal, o melro a pega o cuco;

E - ao alegre quarteto, indiferente -
Com o bico, de forma irreverente,
No tronco, o pica-pau, feito maluco.

2010  

quarta-feira, 22 de junho de 2011

REGADIO CULTURAL NO ESTIO - Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

REGADIO CULTURAL, NO ESTIO


Sem ter jamais um mote que rejeite
Às musas que o visitam, pelo estio
Um bom poeta, propôe-se ao regadio
De cosmos cultural que o não enjeite

E se há coisa que laços, mais estreite
É uma descarga poética de brio;
Tendo sempre perdido um desafio
Quem a menor cuidado, então se afeite

É por isso a garganta o “apetrecho”
De quem vocais “ bafejos” descarrega
Em vista a regadio cultural;

Pessoal libertar de um próprio trecho
E sendo tal  dicção, de airosa entrega
P’ra bons “frutos”, de importe capital.


                                                                           2009

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A NEO ROLIÇA - (O POEMA DA SEMANA - 2011/o6/20) - Do livro: ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

A NEO-ROLIÇA


Saturada de um sempre igual conselho,
Para cortar na  gordura e na doçura,
Evita defrontar-se co’o espelho;
E da poção, ginásio, ou aparelho,
Deduz mesmo, serem contra-natura...

Não crê seu novo peso um problema,
Muito menos um caso lamentável;
E no seu velho garbo - então de gema
Não lhe nota, mudança muito extrema
Mas duma aceitação bem razoável.

E enquanto uma enfermeira co’a seringa
Lhe recolhe de sangue uma amostragem...
Ela - de bem co'a vida - não rezinga
E crê que da seringa, o sangue pinga
Como fazendo à vida, uma homenagem!

E ante o resultado da colheita,
A médica - à roliça acostumada -
Dá-lhe um cigarro, que ela não aceita...
Afirmando-lhe então que tal maleita
Pusera há uns bons tempos afastada...

A médica, cortou-lhe p'ra metade
A comida;  - por crê-la  ser seu fraco -
E achou-lhe a relativa obesidade
Por alimentar-se em mais quantidade
A partir do abandono do tabaco.

2010
  

sábado, 18 de junho de 2011

UMA SAUDADE DE GOSTO - Do livro: "ESTRO DE MULHER"


UMA SAUDADE DE GOSTO


Aquele rouxinol, que na silac,*
Trinava, caprichosa melodia,
Que será feito dele?,emigraria,
Levado p’lo rigor do almanaque?

Ou morreria, de dor ou ataque,
Ou quem sabe, natural anciania?
Que de seu aspecto, ninguém sabia,
E só de si, o canto, era destaque?!...

Eu creio, que voltará, ledo e são,
Aquando for, Primavera ou Verão,
Com as suas ternuras benfazejas;

P’ra me despertar, no meu sonho lindo,
E eu logo lhe dizer: sejas bem - vindo!
Ah bravo rouxinol, louvado sejas!!!

1998

quinta-feira, 16 de junho de 2011

AO ESPELHO (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/06/16) - Do livro: ( a editar)"VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

AO ESPELHO



Assenta-me na mente, augum do "pó"
E há que recuperar-me sem demora;
Aos poucos meu sossego revigora
E na garganta já não sinto um nó…

Meu coração, então em sol-e-dó,
Tem outro badalar, hora-após-hora;
E em vista de uma tão grata melhora
Muito em breve, estarei em alta-mó.

P’ra mais um rouxinol, que me deslumbra
Com inflamado canto na penumbra
Mais às notas, dá timbre de alto nível…

Será isso augúrio de boa nova?
Será que me dirá com sua trova
Que o meu sonho maior, é exequível?!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

AO CANTO DUM ROUXINOL - Do livro: "ESTRO DE MULHER"


AO CANTO DUM ROUXINOL


Quando a tormenta, minha noite embaça,
Por vezes me chega, um terno farol;
Mais um soneto escrevo, (aumento o rol)
Ou mesmo umas quadras e a noite passa.

Mas um subtil nume, minha alma enlaça,
Se a garganta, dum bravo rouxinol,
Na silac,* ecoar seu trino escol,
Num hino, à liberdade, todo raça!

Ah paladino, que alma exangue elevas!
Tu és sorriso e luz de minhas trevas,
Mas invejo as tuas asas, amigo;

Minha vida, entre dilemas, navega…
Vem ver, como meu estro, em dor, fumega…
Voa um pouco, até mim, chora comigo!...


*Arvoredo em frente à minha casa


1997


segunda-feira, 13 de junho de 2011

FELICIDADE NUM TREVO- 1ª Parte( O POEMA DA SEMANA -2011/06/13) Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"



FELICIDADE NUM TREVO
I
Talvez eu fosse já supersticiosa
Com esses meus treze anos – dizer devo –
Porque sentia-me algo esperançosa,
De gozar de um futuro cor-de-rosa
Se conseguisse achar um certo trevo.

Por isso de imediato o que é que fiz
Foi tentar encontrá-lo – na verdade
Para a um dado momento – bem feliz
Realmente encontrar o que bem quis
Esse meu verde trevo e em verde idade

E olhei as suas folhas, com enlevo:
– Quatro folhas, que doces ilusões! –
Mas onde irei eu, pôr-te oh lindo trevo,
Que da cor da esperança te descrevo
E com folhas, par’cendo corações.

Para guardar assim tão raro achado
Só num lugar que seja bem seguro;
E o melhor, será em livro fechado
Porque entre suas folhas, és poupado
E então bem resguardado p’ra futuro.

Passei logo da ideia, p’rá  ação
E, entre as folhas dum livro, o trevo pus;
Até porque de mente e coração,
Conservá-lo p’ra sempre era intenção
E se o perdesse o meu triste: ai Jesus.

Então abria o livro, assim servil l
Ante o pensar ainda algo inocente
Se me surgisse o trevo, emoções mil
Que nesse corpo meu, ‘inda infantil
Tinha meu coração, de adulta gente.
 II
Os anos por mim lá iam passando
E grandes ilusões em paralelo
Com esse meu tal trevo, a cor mudando,
De verde, acastanhado então ficando,
Até acabar seco e amarelo.

E eis que peguei em trevo tão querido,
Lançando-lhe um olhar feito de mel,
Além de em folha a folha ter mexido
E acabando a honrar o meu ouvido
Um som bem similar ao do papel!  

Pensei que papel sendo, realmente
Eu poderia dar-lhe mais valor,
Se em cada folha, a tinta permanente
Deixasse escrito e bem visivelmente,
As letras da expressão - tão linda -­: AMOR!

E assim às suas quatro folhas, devo
Ter tão bela palavra, escrito – à mão –
Que com tal acrescência, esse meu trevo,
Evidenciou em si, dobrado enlevo,
Causando-me no olhar, mais emoção.
  
PAUSA

FELICIDADE NUM TREVO - 2ª Parte


O tempo ia passando e eu sonhava
Com a vinda do príncipe encantado;
Como tal, com vinte anos, constatava
Que em Santiago, com ele me casava
Vendo assim, o meu sonho realizado.

Meditei nessa crença popular:
Será lenda ou será mesmo verdade,
Se alguém de quatro folhas, trevo achar,
Boa ventura por certo, irá gozar,
Num porvir da mais plena f'licidade?
III
Meu trevo calmamente lá deixei,
Nesse velho livro, sem o olhar
Sobre o meu doce lar, me debrucei,
E se é que com fadigas me esforcei
Também compensações colhi – a par –

Mas um dia, que estava motivada
E achando na limpeza, alto ideal
Conclui, como altura apropriada,
De queimar toda a velha papelada
Numa fogueira – feita no quintal! –

Pensei nesse ato em si – auto-avisada –
Achando que minha alma, adoeceu;
Porém, como me via realizada
E sem prever do trevo, já mais nada
Então um gesto meu, me transcendeu:

O livro com o trevo nesse dia
Lancei sobre a fogueira, assim sem mais
(Junto a papeis e toda a velharia)
Mal nesse impetuoso ato, eu preveria
O quanto soltaria tristes ais…

É que tão raro achado a calhar, vinha,
Como um comprovativo a arquivar,
De um meu sonhar antigo de mocinha,
E depois quando fosse então velhinha
Seria o meu palpável recordar!

E arrependida, as cinzas contemplei
Sem ver chance de atrás poder voltar,
Desse ímpeto que tivera, me admirei,
Muito no seco trevo pensei, então
Sentindo até vontade de chorar…

Meu trevo de tão doces ilusões
Não mais o pude ver, nem tocar mais;
Lembro as folhas, par’cendo corações,
Punida, se com auto-acusações,
Também com saudades ­ que são demais.

FIM

sábado, 11 de junho de 2011

FOLGAZONA RICA, ENTRE A RUSGA - Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"


FOLGAZONA RICA, ENTRE A RUSGA


P'ra cumprir seu intento de ir à baixa
E ao santo na cascata, prestar culto
Ignora as iminências do tumulto
E à saia lá descose um pouco a faixa...

Entre esse espaço, algum dinheiro encaixa
– Crendo-se com agir, cauto e adulto –
Que em não fazê-lo, não teria indulto,
Já que não possui conta em banco ou caixa.

Por fim, um alfinete prende ao forro
E então certa da porta bem fechada
Lá vai p'rá rusga, com seu alho-porro;

Mas mais que martelada é apalpada,
Até que aflita, grita por socorro
Porque dá como certo, estar roubada. 

 
2010

quinta-feira, 9 de junho de 2011

POR-DO-SOL NO MAR - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/06/09) Do livro:( Já editado) "ESTRO DE MULHER"


POR-DO-SOL, NO MAR


Mais uma vez, muito o sol e a terra irão vibrar,
Porque (bastante cansado e tombando sobranceiro)
O sol, evidenciará seu pundonor, aureolando o mar,
E estender-lhe -á seus raios, em forma de ribeiro!

Estreito e lucescente ribeiro, na vertical do mar!
Eucromático ouro, sobre, então, cerúlea, cor divina!
Será pintor algum, capaz de mais belo azul afinar?
Encontrará no mercado, mais perfeita purpurina?

E quando o mar (arrebatado de contentamento)
Com ondinhas, acaba por o dourado ribeiro beijar,
Céu e terra, testemunham um maior deslumbramento,
Que do ribeiro saem faíscas de ouro, a cintilar!

Até que chega zéfiro ou neblina com sua doutrina,
Mostrando que a noite, está impaciente, por entrar;
E a auréola, tornar-se-á cada vez mais pequenina,
Fazendo o ribeiro conhecer, progressivo estreitar….

Por fim, réstia de auréola atrai réstia de ribeiro,
E lá vão os dois, para a alma de Neptuno pernoitar;
Fôra um espectáculo nobre, belo e mui verdadeiro,
Fôra o reiterado e apoteótico pôr-do-sol, no mar!



199




terça-feira, 7 de junho de 2011

SEM TI, NOITE - Do livro: (a editar)"PROPENSÕES MUSAIS"

SEM TI, NOITE


Ver-se-ia a refulgência das estrelas?
Seus divinais dourados e formas belas
Irradiaria no lago, ribeiro rio ou mar
A lua, com sua prateada auréola de luar?
Luziriam esplendorosos e ternos pirilampos
Nos jardins, nos quintais ou nos campos?
Os olhos de alguns animais, teriam patentes
As centelhas duns faroisinhos candentes?

Ouvir-se-ia a rã, com um coaxar mais intenso?
Seria o morcego a procurar os círios, propenso?
Recolheriam do pagode as aves aos capoeiros
Deixariam pastos, bois ovelhas e carneiros?
Ouvir-se-ia do gato, tantas vezes o seu miar?
As cativas rolas, intensificariam o arrolar?
E o sonho, será que tantas vezes existiria?
Morreria o dia e o orto de outro surgiria?

Sem ti noite, sem o negro pano de fundo que és
Essas coroas nos telhados, chamadas chaminés
(Umas menos, outras porém mais altaneiras)
Deixando sair dos fogões e das lareiras
Quer fumos brancos ou cinzentos, tanto faz
Pareceriam tanto, ternos cachimbos da paz?
Que seria oh noite de tanto encanto do Verão
Que seria, se teu frescor, não lhe desse a mão?




1990




segunda-feira, 6 de junho de 2011

DIA DE FEIRA - (O POEMA DA SEMANA 2011/06/06) - Do livro: "ESTRO DE MULHER"


DIA DE FEIRA


Pela manhã, com sol ainda a medo,
Vendedores se deslocam à feira,
Dispostos, a seus produtos, venderem;
E alguns, em egoísmo de primeira,
Catam o melhor lugar, com canseira,
P’ra com simpatia e algum enredo,
Então, os compradores convencerem:

– Oh menina, não quer comprar castanhas?
“ Olhe estas maçãs, olhe esta riqueza”
– Já viu umas nozes assim tamanhas?–
“Quem quer ovos de galinha do campo?”
– Olhai as minhas couves sem sulfato! –
“Flores para alegrar a vossa mesa”!
– Quem quer comprar peixe fresco e barato?

Todos conseguem arranjar “poleiro”
E a música, també, topa lugar;
Cassetes em barracas, soam alto,
E um ou outro, mais audaz e matreiro,
Não apregoa só, fado ligeiro,
Mas ‘inda canção que fará corar,
Moça solteira, que vá a passar:

– Para as cachopas, muito eu encantar,
(As livres e também comprometidas)
Além de modas fresquinhas – antigas,
Tenho aqui, para vós, neste rico engenho!,
Escutai, a que vos vou pôr a tocar,
E se não gostardes, oh raparigas,
Coisa muito melhor ainda tenho!...

E em dia de feira, também ciganos,
Vendem e a preços muito populares:
Chinelos, sapatos e roupas finas,
Malas, carteiras e montes de panos;
Agora, já não são mais aldrabões,
Quebraram, muitas das suas esquinas,
E conquistaram, nossos corações!

À quarta-feira, aproveito o ensejo,
De. Ao fazer compras, estender o olhar;
E entre mil coisas, eu, atenta, vejo:
Camiões, com bela fruta brilhando,
Onde alguma insegura, à terra rola,
E que p’ra poder matar um desejo,
Co’a apanha o corajoso se consola!

Pessoas passeando outras correndo,
Se desviando das motorizadas,
Dos automóveis e carros de mão;
Sorrindo, quer feios, quer bonitões,
Se vendo pais e filhos de mãos dadas,
Os conhecidos, se saudando, então,
E alguns apertos, além de encontrões.

Cegos, pedindo a bondade de esmola,
Mendigos, chegando sua sacola;
E vejo: (quando os feirantes recolhem,
Que é no término da feira, mais tarde),
Irem os p’la sorte desamparados,
Remexer, em papeis amontoados,
Onde uma grande esperança os invade!

E, depois, (de bruços no varandim)
Vejo da azáfama feiral, seu fim:
Os animais que não foram vendidos,
Regressarem cansados – doridos,
De tantas horas, vítimas do sol,
Da chuva ou neve e aprisionados,
Para poderem ser negociados…

Mais feiras semanais sucederão,
Com os apregoos dos vendedores,
Dos artigos que trazem para a feira;
E a preocupação dos compradores,
Do preço em questão, se regatear,
Porque o conteúdo de cada carteira,
São gotas do suor de trabalhar!

1982


sexta-feira, 3 de junho de 2011

SONETO DE ALENTO - Do livro:" ENTRE O ANTO E O ACANTO"


SONETO DE ALENTO


Nunca mandes um belo sonho embora
Porque de teus malogros, não é réu;
Não ponhas, negativa carga, ao léu
Antes sim: positiva e hora-a-hora.

Aceita tudo, o que alma revigora,
– Em vez de lhe aplicares, triste véu; –
E pinta desde já, sempre o teu Céu,
Da cor daquela fé, que não descora.

Se co’isso, a maus prenúncios, dirás não
No agir, porás só rasgos de eleição
E no pensar, opção, de senso jus;

Logo, em positivismo a discorrer
Há outro entendimento – outro saber!
Uma outra conceção de sombra e luz!


2009 /01/22 Biblioteca Camilo Castelo Branco     61 anos


quinta-feira, 2 de junho de 2011

DIÁRIO RASGADO - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/06/02) Do livro: "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

DIÁRIO RASGADO


Deixar cá um diário, para quê?
Torná-lo em espelho de ais e dores?
De risos, exageros, e de humores,
Como um historial em ABC?

E além do mais, há gente que não crê,
Na exactidão, quanto ao rol de traidores;
Quanto ao de charlatães e impostores, 
Na bem mais injustiça, que mercê…

Por isso, pus-me um pouco a magicar,
 E após os meus botões questionar
 Em breve o destrui – rasguei-o, pronto;

E sendo ou não um ato extravagante…
Se o acervo escrito, era interessante?
– De tal maneira o era, que nem conto!...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A NARCISO - Do livro: "ESTRO DE MULHER"


A NARCISO


Mira-te Narciso em águas da nascente
Baboseia-te, ante o encanto que Deus te deu;
Ter vaidade, é bem menos fútil, certamente,
Que pôr um “postiço”, feito modéstia, ao léu…

Isso Narciso, ergue a nuca orgulhosamente!,
Porque a vaidade, não é fruto de Asmodeu;
E a “carapaça” da modéstia, nos desmente,
Usá-la é enganoso, isso é que brada ao Céu!...

Com seu “peso”, iremos mais devagar em frente
Mas perfumados, duma salutar vaidade,
Que peso em cima de nós, é que a gente sente?....

Vaidade, poderá ser modéstia em verdade,
E a “carapaça” da modéstia, é repelente…
É a mais fútil vaidade da humanidade!...


1990