sábado, 30 de julho de 2011

O CONSTANTE INCONSTANTE - Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"



O CONSTANTE INCONSTANTE


Num instinto que lhe é bem concernente,
Sofre quando está só e sem que evite
Lá tenta moça ter, que o acredite,
Crendo em si, ir haver muda iminente.

Mas se empatia a dois, fica presente.,
Há nele em breve tempo, seu limite;
E logo fala à moça no desquite
Porque por ela, amor, já não mais sente.

Porém ao ver-se só, ganha a intenção,
De dar no seu pensar, uma viragem
Mas nada lhe valendo, fé ou jura;

 Inocente? Culpado? Insano ou são?
O certo, é que confessa ser selvagem,
Que a química do amor, em si, não dura.

2004
   

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O REUMÁTICO DO CELIBATÁRIO ( ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/07/28) Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"



O REUMÁTICO DO CELIBATÁRIO


De atenuantes renega um rol bem vasto
E ao clínico opinar, nunca se apega
Mas o saber  que tem muito osso gasto
Fá-lo crer da existência, a pior nega...

Tem momentos, de quase andar de rasto…
– Que é quando dor maior, em si navega –
levam-lhe refeições, casas de pasto
E dias tem sem mesmo ver a adega...

Assim enquanto que em surto epidémico,
Quanto a clínico, a ideia põe de lado
Que a qualquer terapêutica é abstémico;

P’ra além das dores, sofre um desagrado:
Que lhe torna o nervoso, mais polémico:
– E que lhe atiça o nervoso polémico –
Se o dizem p'lo “caruncho” já tomado…

2010


quarta-feira, 27 de julho de 2011

A MARLUISA DO JARDIM MUNICIPAL - Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

A MARLUISA DO JARDIM MUNICIPAL

No repuxo do lago, bateu brisa
Deixando os jardineiros barrufados;
E felizes, que estavam transpirados:
 David, Çao, Eugénio e a Marluisa.

Os dois homens – em mangas de camisa
Trataram de pôr galhos, bem podados
Que essas mulheres punham empilhados
Para a recolha, na altura precisa

E após lavados mãos, rosto e pescoço
Os quatro então partiram para almoço
Mas só três em conjunto regressando;

Eis que ao longe, com ares de catraia
O impensável se deu, que  - em mini- saia
A madura Marluisa, foi chegando.

2009

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OS CANDIDATOS DE BELA MOÇA NA BERLINDA - (O POEMA DA SEMANA - 2011/07/25) Do livro: "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


OS CANDIDATOS DE BELA MOÇA NA BERLINDA


Um deles, bem simpático fidalgo
Algum eruditismo, até possuía;
Todavia mais magro, do que um galgo
Enorme senão p'ra o seu joelho valgo
Porque magreza assim, mais o exibia...

Eis que a moça – de bom sexto sentido
E assim com "olho bem arregalado" –
Sem mais, lhe retorquiu que p'ra marido
Somente um grande amor, dava sentido
A compromisso, tão determinado.
II
Outro moço, com ótima figura
– Mas de uma inteligência desavinda
Crendo não ir à mesa, arte e cultura –
Também entrou nessa candidatura
À muito bela moça – na berlinda.

Como pôde? Sem ser cavalheiresco
E com geral cultura, mesmo parca
Usando do baldão, tipo brutesco
Tornando-se até mesmo animalesco
Num tipo de ofender, que deixa marca?! …

Da moça a  perspicácia em sobreaviso,
Fê-la os dois candidatos rejeitar
- Evitando geral crítica e riso -
E de ambos, concluiu: – de são juízo
Não valerem o seu reconsid'rar.

2009
                                                 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

ALGO A FAVOR DE CERTA COMENSAL - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/07/21) -Do livro: "DA RÚSTICA MUSA; QUE PASSA"



ALGO A FAVOR DE CERTA COMENSAL


Lá por ser mulher mais magra que gorda
Não come o que lhe dá na real gana;
Que o seu mal, face a  polvo e a bifana
É não ter um só dente, com que morda...

E vale-lhe uma canja, ou uma açorda
Pêra, ameixa, diospiro e banana;
Mas desse seu senão, jamais engana,
Se alguém a analisa ou a aborda.

E a sua boca - então sem estrutura,
Faz a voz sair-lhe em arrastadura...
E a criatura acalma, ante uma hipótese:

É o homem que ela tem na sua vida,
Igualmente, por ponto de partida
Dentes também não ter, nem usar prótese.


2009

quarta-feira, 20 de julho de 2011

UM CHÁ DE MALVA, POR FAVOR - Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

UM CHÁ DE MALVA, POR FAVOR…


Par’cia pacto ter, com Belzebu.
E usava carapuça, sobre a calva;
Com trejeitos, quiçã de marialva
Deitado na poltrona de bambu.

Como por contenção de escaramuça.
(Em vez dele expressar airoso dito)
Sua boca entretinha, com palito
E às vezes, ajeitava a carapuça.

O jantar indispôs o gabiru
Que soltou uns arrotos por ressalva;
Pedindo de seguida um chã de malva
Por ébrio se encontrar, que nem peru...

2009

segunda-feira, 18 de julho de 2011

UM CASO DE MUITO MAIS BARRIGA QUE OLHOS... (O POEMA DA SEMANA - 2011/07/18) Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"


UM CASO DE MUITO MAIS BARRIGA QUE OLHOS…

 
Se fosse analisada por perito
Nada mais passaria ao rol de intriga
Que na moça em questão, grande barriga
P´ra além de ter na face, acne esquisito.

Porém ela afirmava ter fibroma
Sem a mínima fé, na sua cura;
E o povinho, com dó da criatura
Rezava p’ra que não entrasse em coma

Só que após acabar o emprazamento
Do seu muito intrigante e dúbio estado
Ela foi fazer compras, ao mercado
- Crendo cedo p’ra haver nascimento -

Mas de todos perdeu a confiança
No momento de ter aguda cólica
Além da incontinência, bem simbólica
Que viria a caminho uma criança

E mantendo o tender de boa atriz
Pediu um chã de folhas de cebola;
Só que a gente era tudo, menos tola
Crendo nela um disfarce, não feliz…

Um petiz nasceu - são que nem um pêro
E a mãe, com uma voz de humilde nível,
Disse-o fruto de amor, que de impossível
A fez assim mentir, por desespero…

2009 

sábado, 16 de julho de 2011

O TREMELICÃO - Do livro: ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


O TREMELICÃO


Aquele moço manso e pouco chique,
Com notória tendência ao estrabismo,
Tem um tique e também um tremelique,
Num muito, muito frouxo romantismo…

Vá para onde vá, fique onde fique
É sombra do seu próprio egoísmo;
E por muito que alguém o pique
Pouco liga a etiqueta e maneirismo.

Amou um certo tempo, rapariga
Que não gostava muito da “cantiga”,
Nem do tremelicar do solteirão;

E se o telemóvel sinal dava,
Ao ver do moço o nome, replicava:
– Não atendo, que sai "Tremelicão".

2008

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A BELA E O PALAVRÃO - ( ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/o7/14 9) Do livro: (a editar) " RELANCES DUM OLHAR"


A BELA E O PALAVRÃO


Moça que ao palavrão sempre se agarra
– Para pontos de vista, reforçar –
Faz muito moralista até pensar:
Tão “feias flores”, em tão linda jarra

Por vezes, ele mesmo afia “garra”
Para muito ao de leve a “arranhar”;
E como tal, tentá-la incentivar,
A produzir mais uva e menos parra…

Só que ela poderá deixá-lo enxuto
Com uma tranquila " pose a leste"
E mantendo o seu léxico tão bruto;

Perante uma atitude assim agreste,
P’ra travar-lhe o costume dissoluto:
Só ralhos de abanar, forte cipreste...

2009

quarta-feira, 13 de julho de 2011

CAPRICHOS DUM SOLITÁRIO AO DOMINGO - Do livro: ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

CAPRICHOS DUM SOLITÁRIO AO DOMINGO
Com o pescoço ao modo de flamingo
Lá punha o telemóvel em recarga
E de suspiros, fazendo a descarga
Crendo ser coisa grave o seu Domingo…

Pela tarde, tomava um morno “pingo”
Em roda de amizade pouco larga;
E p’rà solidão ter, menos amarga
Por vezes aderia mesmo ao bingo.

E seus fatos honrava a naftalina,
Gabava suas couves e cebolo
E afogava o cabelo em brilhantina;

Mancebo assim - sem dar ares de tolo -
Chamando a a toda a moça de garina,
Que pena, tão bonito e tão parolo...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O GALÃ E A OBESA - (O POEMA DA SEMANA -2011/o7/11) Do livro: ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


O GALÃ E A OBESA
Num muito abafadiço mês de Julho
Com a tarde correndo, porém  cedo,
Jovem galã - de ouvindo no marulho
Meditava, sentado num rochedo.

Eis que fez dos pertences um embrulho,
No rochedo o deixando e sem ter medo;
E após dado no mar, belo mergulho,
Numa moça notou, sorriso ledo.

E enquanto com o olhar ele a despia,
A par, fez-lhe uma vénia sensual;
Odiando o roupão que ela trazia,
Por velar-lhe o atrativo virtual.

Para despida a ver, como queria
Fingiu curiosidade crua e pura,
E perguntou à moça, se sentia,
Assim uma tão fria temp'ratura?!

Convicta que era mesmo boazona,
Tirou roupãoe pôs fato de banho;
Para abrir a barraca - em boa lona,
Num sorriso-incentivo, a esse estranho.

Depressa eis que ele entrou - e sem vagares,
Licença lhe pediu, p'ra  um palpite,
E à moça - a esperar preliminares -
Mandou-a ir tratar da celulite.

2008

sábado, 9 de julho de 2011

PESA-PAPEIS - Modelagem a partir de cascos de boi

DO QUIOSQUE AO CAFÉ DO CENTRO - Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"


DO QUIOSQUE AO CAFÉ DO CENTRO

 
Chega o Álvaro em bom desembaraço,
E com o seu sorriso,de bons dentes,
Além de algumas graças pertinentes
E co'o jornal, debaixo de um seu braço.

Dá-mo, que para isso, anda um só passo,
E sabe-me antes de outros mais clientes;
Entrego o que é desporto, a impacientes,
E do Álvaro oiço novas, nesse espaço.

Co' um Porto, ele faria um grão-festim,
Porém só lhe dão bola de Berlim,
Que qualquer "mata-bicho", lhe faz mal;

E com o bolo, lá vai de abalada
Entregá-lo a  irmã sua, acamada,
O ganho, dessa entrega do jornal.


2002 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A SARDINHA VIVINHA, DA MARIA MOUTA - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/07/07) Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"


A SARDINHA VIVINHA DA MARIA MOUTA


Quem quer comprar sardinha, tão vivinha
Vinda da nossa costa portuguesa?
Isto é mesmo um regalo em qualquer mesa.
Olhem que direitinha – que tesinha.

Nenhuma moída, é toda sãzinha,
Cá sempre é bem servida, uma freguesa;
Feire comigo, que eu por gentileza,
Dou-lhe uma a mais e farta a barriguinha.

É a Maria Mouta, a sardinheira,
E aquela a quem eu compro à quarta-feira,
Sardinha da grandinha, p'ra fritar;

E após nela passar farinha milha,
É frita; e há vinho e broa-maravilha
Sem o “malandro arroz”, poder faltar!

2004

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O JÚLIO CIGANO Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"

O JÚLIO CIGANO


Não sei se tem família ou onde mora,
Vejoo no mercado e à entrada;
Respeitador, com toda a que é casada,
 Vendo solteira moça, não ignora.

Quer que a ajude a levarcoisas embora?
– Diz-me quando me topa carregada –
Não senhor - respondo eu - muito obrigada
E lá sigo co’as compras, rua fora.

E assim de manhã, ei-lo sorridente,
Para sentir-se mais vivo e mais presente,
Para ter um bom começo do dia;

E na fuga á rotina, então é vê-lo,
Engraxar e a flanela usar com zelo,
Motivando o calçado, à melodia!


1996

segunda-feira, 4 de julho de 2011

NOVIDADES AO EMIGRANTE - (O POEMA DA SEMANA - 2011/07/04) - Do livro: (a editar)"DÁ RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"


NOVIDADES AO EMIGRANTE


Olha emigrante, olha a nossa terra à tua volta.
Parece estar cada vez mais moça, não é verdade?
Ela que já foi uma vila, e hoje é uma cidade,
Uma cidade airosa, hospitaleira e desenvolta!

Vê como parques e avenidas, continuam viçosos,
Neles ajoelhando homens, são jeito de oração,
Mondando relva e novidades, co’a arte de sua mão,
Quer isolados, quer em grupos, coniventes e vaidosos.

– Pacientes e hábeis artesãos, expandindo sua veia,
Agarrando-se à Natureza, como artista a tela,
Caprichando em manterem, nossa terra, bela,
Dando-lhe o que bem merece: encantos de aldeia –

Olha-os também os “miasmas” da cidade, retirando,
Aspirando ou varrendo-os com a mesma paciência,
– Mandados pela voz do dever e da sua consciência –
Empenhados e recurvados, a seu labor se entregando.

Olha novos prédios, bancos, lojas e supermercados,
– Que tais eclosões são p’ra ti, outra minha novidade –
Imagina amigo, quantos sonhos até toda esta realidade,
E também quantas caras novas, nestes imotos acabados!

Olha acolá – antes do cruzamento – dá uma olhada
Dá emigrante, que te deliciará, tal contemplação,
Os volantes, já não topam, à sua frente, um rubicão,
Foi abatido, dando lugar a mais um troço de estrada.

Atenta em cada máquina, seu ruído e trepidação,
Obedecendo a mãos e cérebros de grande vontade;
Vê camiões e mais camiões pelas ruas da nossa cidade
Ora com entulhos, ora com materiais de construção

Vê atlantes agarrados a materiais com galhardia,
Tijolos sobre tijolos, pedras sobre pedras, ajustando
Ou com argamassas enormes esqueletos encorpando,
Realizando ambições de terra que sonha noite e dia.

Olha emigrante,calo a calo e todo o suor consagrado,
Desses corajosos homens, sobre andaimes, se arriscando
Desses obreiros que nos vão novos prédios edificando,
Ou com restauros honrando pergaminhos dum passado.

Vai às rotundas, que compreenderás minha emoção,
– Vai quer com noite iluminada, ou com sol brejeiro –
Que nelas verás entrar indiferente tanto forasteiro,
Para sair com a nossa terra, num cantinho do coração.

Depois calcularás quanto me doerá ser “desterrada”,
Quanto me doerá partir para essa terra prometida...
Que das coisas que mais me vai custar deixar na vida,
É a nossa querida cidade, esta nossa terra amada.

E constatarás que bem mais teria p’ra te contar,
Que terei mil cargas de razão se sentir vaidade,
Porque a nossa terra, está em galopante prosperidade,
Ela é digna de epitetá-la: Bela Musa, de meu poetar!

1991

sábado, 2 de julho de 2011

"AVE RÉGIA" - Colagem e pintura

CINE TEATRO FAMALICENSE - Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"

CINE TEATRO FAMALICENSE

Padece o teatro, a tela e a revista
Poe esse velho prédio, derrubado,
E por tal, no terreno baldiado,
Um diferente imoto, futurista.

Porém contradição, tipo imprevista,
O seu começo, torna prorrogado;
E por tal, no terreno baldiado,
Algo belo eis que encanta o naturista:

São dezenas de plumas, altaneiras
Que o vento até faz per'cer  bandeiras
E todas duma cor, beje-fulvista;

Sim, esse velho prédio, já morreu
Mas é “Fénix” que em plumas renasceu
E em sonhos, eu entre elas, sou corista.

2005