sábado, 31 de dezembro de 2011

DO GRITO AO MURRO NA MESA - Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


DO GRITO AO MURRO NA MESA

Se uma cumplicidade, tem falência

E afrouxam gentilezas e mercês
Pode haver consciente malvadez.
Censura injusta, em vez de complacência­

Há no ambiente, um grito de estridência
Quanto a um dito, de certa sordidez –
E às vezes sob razão, de vãos porquês
Sobre a mesa um murro de irreverência.

Tal grito - assuste ou não quem o ouvir,
Mais o murro - de quem não se contém,
São tidos por soberba e má regrança ;

E reações assim, levam a inferir:
Que melhor mostrará seu génio alguém
Na adversidade, que em plena acordança.

2010

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

INARMONIA - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/12/29) Do livro: (a editar) " DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

INARMONIA


Não pode dar-se à alma, mansidade
Sem ter-se de alegria, um bom reflexo
Antes mesmo um viver triste e complexo
Causará depressão mais ansiedade.

Tende ao carpir de um pranto de saudade,
Pondo o consciente até perplexo
O olhar, sem feliz rebrilho anexo
Porque um sonho, embateu na realidade...

De que importam grandezas de vivência
Ter glória e demais prosperidade
Se a vida, de outros bens, nos dá falência?

E num estado assim de inarmonia,
Não pode dar-se à alma, mansidade
Nem a qualquer ideia, nuca fria.
   

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

DILEMAS EM CONFLITO - Do livro: (a editar)" DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


DILEMAS EM CONFLITO


Se andam em nós, dilemas em conflito
O pobre coração, amargurado
Não consegue ignorar e pôr de lado
Um facto, assim deveras esquisito.

Já que o âmago, não é de granito
Que ao bem, real valor lhe seja dado;
E se chore um destino malfadado
O grande autor de muito triste escrito…

Coração, por dilemas torturado
É como que humilhado e apertado
Com saídas difíceis de alcançar;

E se uma mão amiga ou fiel ombro
Mitigarem um pouco o desassombro
Pode ser o nascer de esperançar!


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

RAZÃO DUM CONTRAMÃO E FINCA-PÉ - (O POEMA DA SEMANA - 2011/12/26)- do livro (n a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


RAZÃO DUM CONTRA-MÃO E FINCA-PÉ

I
Com sacrifício de alto ou baixo gume
Nalguns a sorte é branca e noutros preta
Quanto ao abandonar-se um mau costume.

Levantam-se uns, vão outros à valeta…
E sendo a dependência, essa questão
A cura pode ser, lenta ampulheta.

Em casos tais de urgência de "travão"
Convém não ir na onda da maré
Mas porventura sim em "contramão"

Que isso é como infligir-lhe contrafé,
Passar-lhe um atestado de desmérito,
A um funesto apego, "fincar pé"!
II
Muita mente há, fazendo auto-inquérito
Da real rejeição de um forte vício;
Certa… à retrocedência do pretérito,
P’ra negar-se-lhe o vínculo, no início.

2010  

MERUJINHA - Pintura sobre cartão prensado



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

UM CISMAR EM QUADRA DE NATAL - Do livro: ( a editar) "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


UM CISMAR EM QUADRA DE NATAL

O Natal vai chegando e a chuva fria
Desce das nuvens, às pipas e pipas;
Convidando-me tão matreiras tipas
A fazer-lhes (na rua) companhia.

Lá vou eu, só que o vento em revelia
No meu cabelo, mexe co’as farripas
Vira meu guarda-chuva, expõe-lhe as tripas
E eu até giro e danço, onde não qu’ria…

P’ra mais em quadra assim, e então latente
Um tipo de tristeza é-me imanente
E às vezes até roça mesmo a cisma;

Porque enquanto em alguns, magia avança
Noutros, sem a inocência de criança…
Não há em chaminé, qualquer carisma!...
 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CONCEITOS - (ENTRE QUINTA E SEXTA-2011/12/22) Do livro (a editar)" DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


CONCEITOS

Se há quem seu romantismo não demite
Enquanto no seu peito, chame lhe arde
também ha quem, num ímpeto cobarde,
À própria complacência, dê limite.

Se há quem poligamia, sempre evite
E em prevaricação, não se abastarde;
Há quem o amanhã, creia ser tarde
Para a lascívia alheia – em apetite.

E assim, entre metade do universo
Qu'rendo a monogamia, por direito
E em ondas de Platão mesmo navega;

Outra metade dele, por reverso
Um sério e monogâmico conceito
Ou o negligencia ou o renega…


2009

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PLANTA VENUSTA E LUXURIANTE - Do livro:(a editar)" PROPENSÕES MUSAIS"


PLANTA VENUSTA E LUXURIANTE

Amor que se mantém, sempre constante
É fcomo bela planta, de hirta haste!
Com verticalidade que lhe baste
E a sempre merecer, quem bem lhe lhe cante!

A sempre merecer, que por garante,
Não lhe seque a raiz, nem se desgaste!
E que nocivo vento, nunca arraste arraste
Assim venusto bem, luxuriante!

Que se no peito morre de atrofia,
Um vazio nossa alma, logo invade...
Suscetível de dar- em quantidade,
Penas de solidão, tédio ou fobia

E como a situação, doer não há-de,
Quando fragilizada, uma alma, se acha?
De essência quase exangue, ela se racha,
Azo, a profundas gretas de saudade!?
                                                 
2008 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“CONSERVA” DE AMIZADE - (O POEMA DA SEMANA-2011/12/18) Do livro: (a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

“CONSERVA” DE AMIZADE


Opinião que se apresente opaca,
Ou procedimento de inconsciência
Podem ferir tanto ou mais que faca…

Por isso a mente com boa gerência
Que procura evitar engano e dano
Dará às coisas, salutar coerência.

E à perfídia dirá um não, soberano,
Para evitar incorrer na desgraça
Do derrame de má nódoa, em bom pano.

Seremos todos de igual argamassa,
Ou há uma, mais fraca e outra mais forte?
Sendo a forte a que a perfídia escorraça?

Dando à sinceridade o justo importe,
(Porém sem que o próprio opinar retraia)
Evitando dar na amizade um corte,
Com o bom senso sempre de atalaia!
2008

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

TIRANIAS DUMA MÃE -TORTA - (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/12/16) Do livro: (a editar)" DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

TIRANIAS DUMA MÃE -TORTA


Por bem que um arcabouço, se afigure
Por vezes a vida, é uma mãe torta;
E bem gozá-la, sacrifícios, comporta,
Sofrendo em sua pele, quem descure…

Por muito bom porvir, que nos augure
A todos, sempre fecha alguma "porta";
E quando fracassamos, não se importa
  Nem que a tristeza até, nos desfigure…

Para mais, quando um mal, em nós se alapa
Nunca a vida se inventa em nossa conta,
Nem sempre nos premeia, por lutarmos;

E ao fim de mais ou menos longa etapa
Algo de inexorável, ela apronta,
De ao "reino dos finados" nós passarmos.

                     





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ODE DE MAU ROMEU - (O POEMA DA SEMANA -2011/12/12) Do livro:(a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

ODE DE MAU ROMEU
I

Não é todo o Romeu, que amor bem canta
Antes mesmo, palavras, mal congrega;
E ode mal cantada, do que adianta?

Se mais desilude, do que sossega,
Na baralhada errata, que amontoa...
Quiçá a “pedir”, alvitre ou achega?!

E muito do expressar, de jeito à – toa
– Pouco açúcar lhe pondo e pouco chiste –
Num frouxo romantismo, se destoa

II
Romeu com ode assim, dada em despiste
Ou causa à receptora, um certo susto
Ou então um sorrir insosso e triste…

Porque se ela, aguenta, é a grande custo
A explosão de medíocres bafejos,
Como podres castanhas num magusto.

E de deguste assim, nulos desejos…

sábado, 10 de dezembro de 2011

SOAM ECOS NA TORRE DA ANSIEDADE - Do livro ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


SOAM ECOS NA TORRE DA ANSIEDADE


A brados, iludindo a realidade
– Entre bom linho, renda e bom cetim –
Agita-se na noite, a dama e enfim
A quimera, recai, na realidade…

Recai em cama fria, uma ansiedade
E um verde, em coração, todo carmim;
Um direito a sonhar feito festim
Um misto de  ventura e de acuidade…

Madrugar de tão lúgubre cadência
À dama agita a lira, mas também
À ficção, a incentiva, com  urgência;

Com a cauda do robe, posta em chão
E crendo lá o amante – que não tem –
Cria conversa a dois - da solidão.

2010


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A UM ENTUSIASTA DA ESCRITA - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/12/08) Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

A UM ENTUSIASTA DA ESCRITA
I
Devota-te a início, desse império
Mas não creias a trova, airosa lida;
O reino da escrita, é algo bem  sério…
Por mais que a glosa seja divertida,

E essa erudita causa, nos impele
A darmos  até à final instância –
Almudes de suor, da nossa pele.
II
Se temática alguma te seduz
Escol criatividade, bem lhe empilha;
E o leitor prende, a léxico de truz
Com os pontos, a vírgula e cedilha,

E não lamentes, trôpegos degraus
Que muito a eles, é devida aquela volta
De atingir os tais cento e muitos graus!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SAGA DE LITERATO - do livro: (a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"



SAGA DE LITERATO


Infeliz do literato
Que busque a aura sozinho...
Terá pedra no sapato
No percorrer do caminho.

E se ansiar mecenato,
Só com um empurrãozinho,
Sendo p’ra isso sensato
Procurar um bom padrinho.

Porque os papéis na gaveta
Com um empurrão p’rá meta
Auguram melhor porvir;

Mas há quem só se encoraje
Quando se encontra ante a laje
O literato, a “dormir”!


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

MEU SONHO – MINHA QUIMERA! - ( O POEMA DA SEMANA-2011/12/05) Do livro: ( a editar) "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

MEU SONHO – MINHA QUIMERA!


Se na praia, me acha-se sem papel, nem caneta
E sentisse até mim, uma terna musa, chegar
Que honra saber a areia por papel, a mim aberta
E uma pena de gaivota, que me arrastasse o mar
Que honra ser de caneta, alternativa predilecta
Oh que deliciosa exp’riência viveria meu poetar!

E aguardaria que uma onda, bem esperta
Então de ímpeto, viesse o meu poema, roubar
E que o levasse inteirinho e em linha recta
Para a alma, por vezes empedernida do mar
Ah canto, que poderias até ser dócil seta
Ser remédio para o gigante um pouco serenar

E se à noite ao serão, ele quisesse chamar
Para falar de novo nume, sereia a sereia
Ensinando-lhes um novo canto de encantar
Então minha intenção não tinha saído oca
Que honra, espalhada no mar, essência de minha veia
Ah canto, que andarias nas sereias de boca em boca!

sábado, 3 de dezembro de 2011

PROPENSÃO FILOSÓFICA - Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


PROPENSÃO FILOSÓFICA


Qualquer glossário, tido por  correcto,
Honra toda a vogal e consoante,
Quer em verbal dicção, então sonante,
Quer num desígnio escrito, bem dileto.

De autor, o quanto baste circunspecto
Isento de intenção mirabolante;
Exaltando o cariz edificante
E vetando o égoísmo, por completo…

Ele sabe que a custo, se perdoa,
Aquele vedetismo - que magoa,
De alguém, que da modéstia, se descura;

E que no ferido orgulho, a mazela
Se a má reminiscências, dá sequela
Num alter ego, abala a estrutura.

2009 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AOS JORNALISTAS - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/12/01) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"

AOS JORNALISTAS


Corajosos “Poetas”, penso em vossos fados,
– Vossas corridas p’ró caso, a horas certeiras –
Ao ver jornais, espalhados ou enrimados,
Nos passeios, para recolha de lixeiras…

Também penso em vós – a vosso “campo” agarrados –
Se entro em lojas ou vou a mercados e feiras,
E olho: drogas, pregos e peixes embrulhados,
Nesses papéis, com “frutos” de vossas canseiras…

Mas o que em vós, mais me faz pensar, realmente,
É saber, que em casas dos campos e cidades,
Vossos jornais, padecem bizarra sentença:

Depois de lidos, são só papel absorvente,
– E p’ra fisiológicas necessidades –
Pondo-lhes um “selo”, de inocente indif’rença…


1979