Tenho por condição, ser gata borralheira
Que entre quatro paredes, lá vai labutando,
Numa vida, que é tudo, menos brincadeira
Contudo em feliz lida, só que rotineira
Co’a constante constância muito mal me dando...
Não forçada ao borralho, mas á lidação
– Prémio, castigo, ou mesmo caprichos da sina –
Tal como outra qualquer função ou profissão,
Tenho horas de tédio e enorme exaustão
Esses reflexos, tão nefastos da rotina.
E p’ra senão assim, que me desconcerta,
Refreio-lhe um ou outro efeito depressivo,
E se o fim de semana chega e me desperta,
De pronto a porta da alma, ponho bem aberta
P’ra algo que lhe dê, de alegria um motivo!
Sou gata borralheira, vivendo em cidade
E alento-me co’o campo, serra, rio e mar
Esses tranquilizantes, com capacidade
Onde pena e papel em certa quantidade,
Serão sempre acréscimos p’ra eu levar.
E esqueço a plangência de alguns dos meus ais
Quer a escrever, quer noutro tipo de lazer;
É que praxes e rumos, sendo sempre iguais
– E então um paradigma de muitos mortais –
Causam stresses, convindo bem os combater.
Por tal, sempre que posso, faço uma viragem:
Sou ociosa campina, serrana ou varina
– A gata borralheira, em fuga à vassalagem –
Prestando à inconstância, uma justa homenagem
Por considerar, flor carnívora, a rotina.
1991
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