ENTRE O NINHO E O MEDO
Faz uma ave o seu ninho
Na fronde ou beiral de casa,
Com tanto amor no biquinho,
E destreza em cada asa.
Põe seus ovos de mansinho,
E depois sobre eles jaz,
Com material calorzinho,
P’ró chocar ser eficaz.
Vão seus ovos estalando,
Tal como úteros se abrindo,
Para vidas começando
E instintos que irão surgindo.
E a ave mãe, com canseira,
Faz seu bico em bons auguros,
Ser como mão de parteira,
Ajudando os nascituros.
E lá voa sobranceira,
Na ideia de achar comida,
Que as crias, em piadeira,
Mostram carência de vida.
Da lufa, então volta e meia,
Traz sustento, ante agonias,
Temendo a cobiça alheia,
Roubar-lhe do ninho as crias.
E que um bicho esfomeado,
Prive-a da coisa mais quista,
– Que a vida lhe houve ofertado –
Cumprindo instinto egoísta.
Ou a malvadez gravosa,
De matar só – a vontade
Com arma ou fisga maldosa,
Entre mãos de crueldade!
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