sábado, 30 de abril de 2011

CONDICIONADO SENTIMENTO - Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"

CONDICIONADO SENTIMENTO


A mocidade é linda e triste a morte!
E a marmanja, de blusa de cambraia
Além de sensual e curta saia 
Achou p’rá sedução, ter passaporte,
Devido aos ganhos traços, de catraia

Respeitável bagagem de cultura
E uma conversação eficiente 
Eram-lhe a garantia bem segura;
E quase vespa era, de cintura
De seio, conservado ‘inda hirtamente.  

Saiu p’rá rua, de óptimos humores
Crendo ir achar p’rá alma, a “grã-divícia”;
E esquecendo até, crise de valores
E que hoje na noção de entendedores 
É o amor, não ter dura vitalícia!
 
2010

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O MOÇO E A MARMANJA - (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/04/28) Do livro: ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

O MOÇO E A MARMANJA


Um moço com cabelo à escovinha,
Fugia a sete pés duma marmanja,
Livre anciã, proprietária de uma granja,
Sem filhos, sem ninguém, enfim sozinha.

E após ele chamar-lhe: – oh tiazinha,
Bem na hora, resposta, ela lhe arranja:
– De velha galinha, é a melhor canja;
E co’isso arrepiando-lhe a espinha…

Logo ele – de “enterrada carapuça”
– E sem sequer fazer escaramuça –
Partiu sem mais ouvir; sabia o resto…

Um tamanho mutismo, por resposta
Foi para ela, o ganho de uma aposta
E com pouco prosar; sem luta ou gesto…
            
2009

quarta-feira, 27 de abril de 2011

FORMAL E INFORMAL - Do livro: ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"

FORMAL E INFORMAL


Uma moça, mais recta do que espiga,
Não queria uma afeição fictícia;
Mas franca e de duração vitalícia,
E tudo mais era pé-de-cantiga...

E o moço desdizendo a rapariga,
– Que em beleza era uma estrelícia –
Afirmou-lhe com alguma malícia:
– O formal, mais afasta do que liga…

Logo ela, mais que crer de má orgânica,
Do moço assim uma tal cantilena,
Achou-a com componente satânica;

E em voz tão firme quanto serena,
– Por graça duma coragem titânica –
Fez sair o actor principal de cena…

2009

segunda-feira, 25 de abril de 2011

ALELUIA! ALELUIA - O POEMA DA SEMANA -2011/04/25) Do livro: (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"








ALELUIA! ALELUIA!


Já caíram bandeiras e panos roxos da paixão,
Sarandeando em varandas, colchas cor da alegria;
Carrilhões e sinos arrebatam a alma do Cristão
Que ressuscitou Jesus Cristo, Aleluia, Aleluia!

Ele na Judeia, pregando Sua Doutrina complacente
A Seus discípulos que a seguiam, que era verdade
Sem cursos, era mestre dos mestres, ser Omnisciente
E sem ter pretensões de coroa, era Excelsa Majestade.

Herodes um rei déspota, poderoso e prepotente,
Usando e abusando de sua ímpia justiça de pagão
Via um estorvo em Jesus e Sua doutrina clemente
Perseguindo-o para infligir-lhe a crucificação

E Judas até então sempre devoto discípulo de Jesus
Em débil momento, tornara-se “ovelha “ ingrata
Pois perfidamente contribuiria para a Sua cruz
Entregando-o a Herodes, por trinta moedas de prata

Arrastaram-no soldados p’ró horto do flagelo horrendo
Infligindo-lhe as injustiças mais sádicas e atrozes
Todavia, resignado, por nosso amor, tudo ia sofrendo
Ele Omnipotente, podendo vencer tais animais ferozes...

E ao invés de dourada coroa de excelsa celebridade
Em Sua divina cabeça, coroa de espinhos colocaram
Rindo-se Dele, insultando-o e batendo-lhe, sem piedade
Crendo poucas as lágrimas que pelo rosto, Lhe rolaram.

Tudo isto, faria parte, dum triste e penoso rosário
Porque Seu padecimento iria ser ainda bem maior:
Carregaria pesada cruz, até ao Monte do Calvário
Onde com ela três vezes cairia e sagrando de suor

Tais e tamanhos flagelos, puseram-no quase exangue
Além das chagas, marcarem o Seu corpo, que fôra são
E no sudário Seu bendito rosto ficara gravado a sangue,
Mas patenteando bem misericordiosa imagem do perdão.

Porém Sua cruciante odisseia, bem mais se agudizaria
Pois Herodes destinara-lhe a pena máxima, a maior:
Seria crucificado perante os homens e Sua mãe, Maria
Como um cadastrado ladrão, vil assassino ou traidor.

Por conseguinte numa cruz, ajustaram Seu corpo imolado
Pregando-lhe a cravos de ferro, mãos e pés, sadicamente
E expondo-O na vertical, entre Céu e terra, bem vigiado
Até vê-lo exalar o Seu derradeiro suspiro finalmente.

E após Sua colocação no sepulcro, Heródes acalmaria,
Todavia um milagre iria pôr os soldados absortos:
Cristo ressuscitaria, subindo ao Céu ao terceiro dia
Para com Sua justiça julgar os vivos e os mortos.

Ele o Omnipresente, visita-nos no Domingo de Aleluia
E assim pregado em simbólica cruz, faz-nos meditar
Na concernente “cruz”, de cada mortal, no dia-a-dia
Na “cruz” que cada um, ao “Calvário” tem para levar...

Senhor, se com ela cairmos, ajudai-Nos a levantá-la
Fazei-Nos lembrar da Vossa, mais pesada e maior,
E que Vós Omnipotente bem poderíeis repudiá-la
Mas deste sublime exemplo de abnegado sofredor!

sábado, 23 de abril de 2011

MIRACULOSA "BARRELA"- Do livro: (a editar) DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

MIRACULOSA "BARRELA"

Quando entro numa igreja ou capelinha
E seja ela mais rica ou mais singela
Saio depois já de alma lavadinha
Mais rejuvenescida, bem mais bela.

É que entrado o portal ou a portinha
Benzer-me a água Benta, é como que ela
Fizesse um pré-lavar à alma, minha
P’ra depois, eu fazer-lhe uma “barrela”.
                                  
Lá faço exame à própria consciência
Depois rezo oração, que em si me alenta
                              Para propor-me à muda ­ – e com urgência



Logo em minha razão sucederá
Que ao meu benzer final, com água Benta
A igreja ou capelinha, bendirá!


quinta-feira, 21 de abril de 2011

ÉGIDE MUSAL- (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/04/21 ) Do livro : "PROPENSÕES MUSAIS"

ÉGIDE MUSAL

 
Sinta até um belo estro em sua veia
E um bom perspetivar o encoraje,
Por vezes trovador há, que receia,
Que a musa – que o alenta e, incendeia– 
O abandone de vez, e então viaje…

E se por tal, há quem se escaramuce,
Também há quem tal facto bem acate,
Ou quem de tanto chôro, até soluce…

Do caso, pensadores em diálogo,
– Se é que aludem temática musal –
Convergem, no ajuizar – ao caso análogo,
Que tantas vezes poético catálogo,
Faz subentender algo em si, fulcral:

De todo o carme, ser ” ilustrador”
De que uma musa, expulsa – e lindamente 
A própria solidão de um criador!



2010









quarta-feira, 20 de abril de 2011

VICISSITUDE - Do livro: "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

VICISSITUDE

 
Por bem, sempre por bem, vezes amiúde
Tenho ganas de sã vicissitude:
Do cheiro a terra seca e maresia,
De ter livre pensar para a poesia.

Feliz por sorte assim e que não mude
Que é de meu amor-próprio a garantia
E de meu conhecer a amplitude.

Que saiam versos plenos de substância
De crucial e lógica importância
Frutos duma esmerada propensão
Num prazer, misturado de aflição.

O que de melhor tem minha inconstância!
A minha meruginha de Verão!
Gostosa e salutar extravagância!

2008

* Chuva miudinha

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FELIZ FLAGRANTE - ( O POEMA DA SEMANA - 2011/04/18 ) Do livro: (a editar"DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

FELIZ FLAGRANTE
I
Da entrada que dá para Guimarães
– E fugindo do urbano tumulto –
Caminho para o parque de Sinçães; *

 Para ver se de musa, encontro um vulto
E honrar as minhas décadas de escrita
Prestando então ao facto, justo culto;

Reconfirmar o quanto me palpita,
O quanto o ego meu vê de importância,
De um louro eu ter, de musa bem bonita.

Meditar nos pardais, quase em constância
Nas árvores, nas flores e na hera
E borboletas, por entre a fragrância.
II
Nesse frescor da relva tão sincera,
Não deixa de ser breve o meu descanso
Já que a inspiração se nega à espera…

E ora um cisne me perscruta, ora um ganso
Ora um bando de pombas junto ao lago
E um pretinho cão, lança-me olhar manso

Sorte a sua, que pão de milho, trago
– Para em casa, ajudar-me à refeição –
E irá avivar-lhe o olhar vago...

Levo um pouco dele, à boca do cão
Que hesita um pouco e me fita espantado
Para engoli-lo com consolação.
III

Se dei como melhor o pão comprado
Nesse dia, do que noutro qualquer;
Esse cãozinho – ao certo abandonado
Beijou-me a mão que lhe deu de comer!

2009

* Zona verde, onde se encontra a biblioteca Camilo Castelo Branco - Famalicão


sexta-feira, 15 de abril de 2011

ESTIO ANTECIPADO- Do livro: "PROPENSÕES MUSAIS"


ESTIO ANTECIPADO


Lá suspira a gentinha afogueada
Procurando uma fresca graça eólica;
Devido a mornaceira então diabólica
Duma estação de estio antecipada

E é bom de ver, à vista desarmada
Casos de sonolência, em si bucólica;
Circunstância que pode ser simbólica
Da iminência da acção da trovoada.

E além de braços nus, em evidência
Lá se troca o botim pela sandália
E enchem-se piscinas, com urgência;

Enquanto, muito cravo, rosa e dália,
Por seu lado, e devido á incongruência,
Exigem rega – em muda represália.

2010

quinta-feira, 14 de abril de 2011

CASTANHA ASSADA NO POTE - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/04/14 ) Do livro: "DA RÚSTICA MUSA QUE PASSA"


CASTANHA ASSADA NO POTE


Não convém distracções e nem demoras
E lá vai mais de sal, punhado franco
Levando o pote, mais um solavanco
E agitando abano, mãos sabedoras

Há repetidas cenas, vencedoras
E cada castanha, é um saltimbanco
Entretanto um pozinho fino e branco
A todas elas põe mais sedutoras!

Por fim um tabuleiro, é como um palco
E elas – Como que tendo pó de talco –
Estão expostas em monte ou fileiras;

Belas castanhas, quentes e tão boas
(Tentação verdadeira p’rás pessoas
E vendidas à dúzia em qualquer feira. 


2003

quarta-feira, 13 de abril de 2011

UM RAPAZ TIDO POR : COISA FOFA - Do livro: "RELANCES DUM OLHAR"


UM RAPAZ TIDO POR: COISA FOFA 


  – Sem abusar dum néctar de caneca –
Dois compulsivos vícios, nele havia:
Comer bem e dormir boa soneca;
E de tal forma, que forte enxaqueca
Depois de feita a sesta, então sofria.

E as camisas que usava, em seda fina
Confirmavam, que mais do que balofa
Tinha gordura, tipo “gelatina”;
Contudo uma simpática menina     
Chamava ao bom rapaz: coisinha fofa!

Eis que após nos seus vícios cismar
Decidido e de vez, portas lhes fecha;
Conseguindo um escol prémio ganhar,
Que a boca da “simpática”, foi dar,
Na dele - por não ver-lhe, uma bochecha!


2010/03/30
 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

PERANTE UM SOL DE ABRIL,POUCO GENTIL - ( O POEMA DA SEMANA - 2011/04/11 ) Do livro: "DA RÚSTICA MUSA QUE PASSA"

PERANTE UM SOL DE ABRIL, POUCO GENTIL

I
Por o sol não estar muito gentil
Os calceteiros tinham pouca sorte
E dava a previsão – mais para o norte
Durante essa semana, aquoso Abril…

Par’cia Inverno em vez de Primavera
Porque a chuva entre abertas, lá caía;
Todos eles, achavam ironia 
Nesse mês, ambiência tão austera;

Eis que caiu na lama, o mais esperto
Dando em riso geral – sobremaneira
Só que a coisa não era brincadeira
Porque não se mexia o moço ao certo.

E um dos outros, crendo-o amarelo
Com certa abruptidão e sem mais nada,
– Não vendo por perto, água açucarada –
Deu-lhe mesmo na nuca, co’um martelo.

Todos consideraram de maugrado
Uma atitude assim, tão repentina
Mas por sorte, surgia de uma esquina
Uma ambulância p’ró acidentado.

Só que ele, a si voltava – estupefacto
E patenteando apenas um problema:
O de ter na cabeça um grande edema
E dessa martelada – isso era um facto.
II
Muitos acreditaram ser prodígio
Não haver consequência, bem pior;
Que ao calceteiro em breve, passou dor
E do edema, deixou de ter vestígio.



2009

quinta-feira, 7 de abril de 2011

TERNA PLACITUDE- ( ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/04/0 7) Do livro: "ESTRO DE MULHER"


TERNA PLACITUDE

Ganhou viço, o prado, com as chuvadas
E a solarenga ternura aprilina *,
Honra a cabra, o bode, a ovelha merina,
Nele entregues, a suas ruminadas.

E se essas criaturas esparsadas,
Me criam mil anseios de campina,
O que mais certamente me fascina,
É ver em manadas, vacas malhadas!

Com ossudas ancas e cheias tetas,
Com o corpo, às malhas brancas e pretas
Hoje, em dia, entregues ao pasto sós…

Criaturas com olhar de ternuras,
Que vistas de cima, a grande altura
Parecem curiosos dominós!

1993

* Referente ao mês de abril


segunda-feira, 4 de abril de 2011

AS MENINAS DOS MEUS OLHOS - ( O POEMA DA SEMANA - 2011/04/04 ) Do livro: ( já editado) " ESTRO DE MULHER"



AS MENINAS, DOS MEUS OLHOS


Essas minhas, eternas crianças, traquinas,
(E com a mesma idade, que tenho, porém)
Denunciarão, elas, assim pequeninas,
Essas minhas adoradas gémeas meninas,
A tamanha experiência, que ambas já têm’

É que a outras meninas, sem conta, sorriram
A outras também, muito estimaram e amaram;
No pretérito, muitas outras iludiram,
A outras, (sem dó) traquinamente mentiram
E de algumas, (porventura) se desviaram…

São e sempre foram, bastante vigorosas,
Nunca lhes chegara, qualquer doença ou mal;
Só que “ontem “, eram terrivelmente teimosas,
Eram umas meninas, por demais chorosas,
Que, tantas vezes, me deixavam ficar mal…

Sem regra, se banhavam em água salgada,
E p’ra isso, dois lagos faziam encher;
Quantas das vezes, eu era contrariada,
E ficando impotente, ante essa criançada,
Porque aí, já nada poderia fazer!?...

Por isso, mesmo, as disciplinei a contento,
(Mas sem as deixar, insensíveis ao pesar,
À extremosa alegria ou grande sofrimento)
E em boa verdade, elas, a qualquer momento
Choram sim, mas tão-somente, se eu as deixar…

De modo, que de vez em quando, (sem contarem)
Que é, quando sinto “invernias” de saturar,
Deixo então, meus dois lagos secos inundarem,
Para assim, minhas meninas, se compensarem,
Das muitas vezes, que eu as não deixo chorar!...

Porque deixá-las fazerem-no como outrora,
A cada pequena emoção ou dor sentida?
Isso é que já não lhes permitirei agora;
Acontece sim, e até mesmo, sem ter hora,
Chorar eu, como Madalena arrependida!...

E as lágrimas, são os meus adorados versos,
Que vou derramando, neste livro, só meu;
Que dele tenho, por lenços brancos, dispersos,
Para meus momentos de emoção ou adversos,
As suas folhas, e onde à vontade, choro eu!...