FELIZ FLAGRANTE
I
Da entrada que dá para Guimarães
– E fugindo do urbano tumulto –
Caminho para o parque de Sinçães; *
Para ver se de musa, encontro um vulto
E honrar as minhas décadas de escrita
Prestando então ao facto, justo culto;
Reconfirmar o quanto me palpita,
O quanto o ego meu vê de importância,
De um louro eu ter, de musa bem bonita.
Meditar nos pardais, quase em constância
Nas árvores, nas flores e na hera
E borboletas, por entre a fragrância.
II
Nesse frescor da relva tão sincera,
Não deixa de ser breve o meu descanso
Já que a inspiração se nega à espera…
E ora um cisne me perscruta, ora um ganso
Ora um bando de pombas junto ao lago
E um pretinho cão, lança-me olhar manso
Sorte a sua, que pão de milho, trago
– Para em casa, ajudar-me à refeição –
E irá avivar-lhe o olhar vago...
Levo um pouco dele, à boca do cão
Que hesita um pouco e me fita espantado
Para engoli-lo com consolação.
III
Nesse dia, do que noutro qualquer;
Esse cãozinho – ao certo abandonado
Beijou-me a mão que lhe deu de comer!
2009
* Zona verde, onde se encontra a biblioteca Camilo Castelo Branco - Famalicão
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