segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ENSAIO DE AUTOR- (O POEMA DA SEMANA - 2011/10/31) Do livro ( a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

ENSAIO DE AUTORI
Todo aquele abnegado autor, que ensaia
Num inferno ou num Céu, decerto que age
Como onda decidida, que se espraia.

Levando-o a crer, que inflige ultraje,
Ao próprio pundonor - correndo em “calha”
Se à musa, que encoraje, não reaje.
II
E se é que anda, no fio da navalha
Toda a sua acalmia, é aparente;
Chegando a travar mesmo, auto- batalha.

E gravosa se houver perda iminente,
Podendo mesmo o autor, considerar-se
Como que sendo só, dez reis de gente…

Se terá que assumir-se e não negar-se
Sua auto-raiva pode não ser vista;
E se o ar natural será disfarce
Também incentivo é, a que persista!

2008 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MEA CULPA - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/10/27) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


MEA CULPA


Uma ânsia de repouso, não a nego,
Que ando até, carenciada de sesta;
Só que tal lazer, no fundo, me empesta:
Cérebro não paro e olhos não prego…

Oh que pesada carga que eu carrego!...
Tréguas versos meus, não sature a besta;
Mais suor, para a minha pobre testa,
Adoráveis ladrões do meu sossego?!.

A culpa é toda minha, eu a confesso,
Pois não quero o meu estro ferrugento,
E sabendo que os gostos têm preço...

Todavia, à carga, à carga que aguento!,
(Já que sem ela, até me desconheço)
Mercê das compensações que exp’rimento!


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DESINSPIRAÇÃO - Do livro (já editado) "ESTRO DE MULHER"


DESINSPIRAÇÃO


Com o metro fremente, na ponta dos dedos,
Com um rol de temas, que há muito eu amealho,
Topo-me no triste papel dum espantalho:
Sentirão as musas, de mim repulsa ou medos?

Quem me rogou pragas, ou quem me fez bruxedos,
Que da minha penas, só surge, hoje, “cascalho”?
Camaradas poetas, somos um frangalho…
Mas quem nos mandou, escalar estes rochedos?...

Desinspiração, que pesada chicotada…
Que medalha de cortiça que a gente tem…
Uma criatura, ou fica louca ou frustrada…

Mas haverá na terra, sempre ledo alguém?
Depois do sol, pode vir chuva ou trovoada…
Esta vida; é um sobe e desce, ela é um vaivém!...




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A UMA FLOR QUE EM MIM NASCEU - ( O POEMA DA SEMANA - 2011/10/24) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


A UMA FLOR QUE EM MIM NASCEU


Pois se até mesmo no rude muro, nasce a hera,
Porque não haverias de nascer em mim, afinal?
Se tinha p’ra te dar, toda a minha primavera,
Se, no meu peito, oh flor, havia seiva vital?

Porque não haverias tu, de, em mim, nascer,
( E nesse bem distante Abril) porque razão?
Se já coisas do mundo, faziam comigo mexer,
Se eram já autoras, de tanta minha meditação?

(Se já entendia, o carisma, das coisas naturais,
E sabia, o quanto a solidão é triste companhia…
Se já encontrava razões, p’ra tantos de meus ais,
Se já agarrada ao sonho ou quimera adormecia?!....

Porque não haverias de nascer em mim, oh flor,
Se acontecia, que meu olhar, em tudo te via,
E meu âmago, podia ser teu escravo e senhor?...
Tu tinhas mesmo de nascer, em mim, oh poesia!

E escalaste, comigo, montanhas de lenda e verdade!
Falei-te., do alvorecer da vida e seu anoitecer….
E (além do quanto é bela, mas triste a saudade)
Do vale de lágrimas, que o riso pode esconder…

Fui afinando minhas cordas vocais, p’ra te cantar,
Oh flor, (que o teu encanto me emociona ou serena)
E quando vires, no meu rosto, uma lágrima rolar,
É por achar, que nasceres, em mim, valeu a pena!

1991

sábado, 22 de outubro de 2011

ANTE UMA FOLHA DE OUTONO - Do livro ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


ANTE UMA FOLHA DE OUTONO


Na verdade, o bem, nem sempre nos dura,
E muitas vezes, é por demais, breve;
Chega até nós e como folha leve,
Voará, dando lugar à amargura…

Ai que saudades da minha frescura,
Ver no meu espelho, esses encantos de Hebe,*
Mais do que ontem. Hoje minh’alma percebe,
Que remar, contra a maré, é loucura…

Será que, tal como eu, tu folhinha,
Também já lidaste com a quimera,
Pensando que teu Outono, não vinha?

Calendário das vida, quem me dera,
Que isto, fosse do sonho partidinha,
E acordasse, na minha Primavera!

1991

* Deusa da mocidade


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

MELANCOLIAS DE OUTONO - (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/10/20) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


MELANCOLIAS DE OUTONO


Ah versos moços, como tão belo seria,
Possuir hoje, a congratulante emoção,
De edificar-vos (já que moça me sentia)
O meu verdor, a vosso verdor, dar a mão!

Mas minh’alma, esta patética cotovia,
Vendo que há muito, eu deixara de ser “botão”,
Dá tal melancolia, a sua sinfonia,
Que eu não preitearia, vossa condição!...

Sou no meu Outono, tal qual a flor murchando,
Ao menos, que uma gota de “orvalho” me dota,
A musa sublime, rolando e me inspirando!...

Tão clara, nela transparece uma saudade…
Ah versos moços, sabei que essa clara gota,
É uma lágrima, pela minha mocidade!

1989

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

AO FLAMEJAR DUM CARME - Do livro (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"


AO FLAMEJAR DUM CARME

Se algo há que o mau humor em mim desarme
– De uma forma, por certo bem subtil –
É ouvir declamar, sentido carme
Alguém, com carismático perfil

Nem mais importa, para cativar-me,
Do que o cumprir de intento tão gentil;
Nessa eclosão assim de um puro charme
Com flamejos, dum estro assaz febril.

E na voz de fulano ou de  beltrano,
De um popular ou mesmo de um pedante–
Mais me importa é saber-lhe empenho sano;

Logo, um tal desempenho, assaz brilhante,
- Dá no meu mau humor, um tal abano
Que  faz bom-humor, num breve instante.

             2009               

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CISMA DE MORTE - (O POEMA DA SEMANA- 2011/10/17) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


CISMA DE MORTE


Ao pensar na negra hora que está p’ra vir,
O meu olhar, bem triste e distante ficou;
A minha boca afrouxou – deixou de sorrir,
Bem desejei, tal pensamento repelir,
Mas cisma de morte, minha mente ensombrou…

Meus sentidos à cisma, haviam dito sim,
E ficando por ela, abatidos – sem norte;
Mas será que ao pensar nesse “degredo” assim,
‘Starei apressando, tão mau bocado em mim,
Que neste meu cismar, agoirarei a morte?

É bem o preço que pagamos pela vida!
E dele, nada nos livra, nem até a crença!
Tanto o paga o crente, ateu ou alma perdida,
Nem o perspicaz tem essa hora vencida,
Nem mesmo há força sobrenatural que a vença…

Oh ricos, olhai a desditosa pobreza
E virai vossa altivez em compaixão;
Ponde nos jobs, mais fartura em sua mesa,
Porque duma coisa, podeis ter a certeza:
Jamais se levará dinheiro no caixão!

Oh necessitados e humildes, – quanta dor?–
Sem alguma esperança, ante sorte tão dura;
Crede que, no céu, a vós, depois, o Senhor
Vos contemplará, com glória, muito maior,
Do que, neste mundo, qualquer luxo ou fartura!

Mas será que muito estudar então resulta,
Suor, lágrimas e sacrifícios também?
Adiantarão, nas mãos, os calos da labuta,
Valerá a pena, nesta vidam árdua luta,
Se a morte, pela certa um dia, até nós vem?

Sim, tudo isso adiantará e é de louvar,
Porque se um já “foi”, outro, porém, ‘inda não,
E muitos mais, irão p’rá vida despontar;
Encontrando exemplos, que os façam meditar,
E onde, certamente, muitos os seguirão!

Se é inevitável tal rescaldo da vida…
Se o tributo de se nascer, será a morte,
P’ra quê este meu triste cismar, sem medida,
Nessa triste evidência por demais sabida,
Como me poderá ele dar melhor sorte?

Mais sensato, será tentá-lo repelir,
Já que não me abolirá hora tão fatal;
Transformarei, em lucidez, o meu sentir,
Deixando essa funesta hora, até mim vir,
Como coisa absolutamente natural!...

1988


sábado, 15 de outubro de 2011

A FONTE DE ESTRO- Do livro ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


A FONTE DE ESTRO


Que sensação, de indescritível alegria,
Levar minha bilha, a essa genial fonte,
(Ante sol, chuva, neve ou forte ventania)
Enchê-la e logo olhar em frente o horizonte!

Poder dessa água beber, com grande euforia,
E sem que com uma indigestão, me confronte;
Que ela é prodigiosa – jamais me enfastia,
Não havendo mesmo, quem defeito lhe aponte!

Água imaterial, que entra em tanta garganta,
Corre, bate à porta da alma e a levanta,
Indo com ela, na nossa mente mexer;

E quando o sangue, nos parece fervilhar,
Tal água, mostra bem, seu subtil milagrar:
Sai p’la nossa mão, virando tinta a correr!...

1991


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MOMENTOS… (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/10/13) Do livro :( a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

MOMENTOS...

I
Por muito que o escrever me seja assíduo
Se para breves tréguas, eis que  pauso,
De pronto certa dúvida, em mim causo:
Se validar ou não, banal resíduo…

E se crer ou não ser digno de aplauso
O extremista pensar dum indivíduo…
II
O temer, que o absurdo não esbarre
Neste estro meu – deveras específico
Anseio que - mais grave ou mais pacífico
Jamais ninguém por seu, o afirme e narre…

P'ra além de ter um medo dolorífico
Que o cinismo na  musa minha, escarre…


2010

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

RETRATOS A NU - Do livro: (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"


RETRATOS A NU


Meus versos, são imagens, são retratos
Desta minha alma, neles posta, nua;
Toda viva emoção, real e crua
Com valores concretos e abstractos.

E sem ter pejos falsos ou baratos
Se acaso na quimera, ela flutua
É vê-la uma criança, que ora amua
Ora com a coragem, faz contratos.

Alma que vai crescendo, ante lições
E mais de suas próprias deceções
Que de esplendores, risos e sucessos;

E da condição sua, o mote glosa
Inteira, nua e crua, (eis como posa)
Sem receio de expor os seus avessos.


1997

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

CHAMEI PELA PROVIDÊNCIA - ( O POEMA DA SEMANA -2011/10/10) Do livro : ( já editado) " ESTRO DE MULHER"

CHAMEI PELA PROVIDÊNCIA


Dispus-me a olhar o mundo, ao redor,
E grande tristeza me assolou,
Por ver tanto mal em evidência;
Minha alma, toda ela se enlutou;
E então, chamei pela providência!

Vi pobres, sem terem pão nos lares,
E com filhos, ano-a-ano a surgir;
(Sem cama, pernoitando no chão)
Logo, pedi ao céu p’ra intervir,
Rezando, com fé, minha oração!

Pus os olhos no século vinte,
E vi tanta fraqueza, em rapazes,
E tantas meninas a se entregarem…
Que pedi ao céu, forças capazes,
P’ra eles, sua vida mudarem…

Vi tanta discórdia, em nações…
Irmão, sendo inimigo de irmão;
(Ante guerra fria, sangue quente)
Por isso e com toda a devoção,
Rezei, para não morrer mais gente…

Olhei doença, flagelo, mal,
Pensei nos acidentes de estrada,
E em tanto azar e pesar profundo,
Que roguei ao céu, (esperançada)
Para acabar com a dor no mundo!

Mirei prados, pomares e vinhas,
Neles, tudo a chuva destruindo,
Me causando um dó de consciência…
E (ante a esp’rança me invadindo)
Então, chamei pela providência!...

Cem vezes mais, lhe fiz chamamento,
Fazendo da minha fé, aposta,
Para tantos males, do irmão meu;
Mas, no silêncio, achei a resposta:
– Até Deus, que é Deus… também sofreu!!!
1970

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

QUANDO HORAS-A-FIO, EM VOZ ACTIVA - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/09/06) Do livro : (a editar)"ENTRE O ANTO E O ACANTO"


QUANDO HORAS-A-FIO, EM VOZ ACTIVA


Por vezes faço à alma, a oferenda
De horas-a-fio, pôr-me em voz activa,
 Em solitária recita inventiva
E em que apenas meu estro, a bem acenda!

Sou assim mesmo – já não tenho emenda
Usto de alma e mente em paz acertiva;
E só com a garganta em carne-viva
Pausaria – e com auto-reprimenda…

Um virtual supor; indicativo
Dum bem, dado em abuso e assim nocivo,
Dum sabor, transformado em dissabor…

Menos mal, como hipóteses apenas;
E as horas que dispendo em cantilenas,
São-me  de afinação, atos de amor!

                                                                          2009

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MEDITAÇÃO - (O POEMA DA SEMANA 2011/10/03) Do livro: "ESTRO DE MULHER"

MEDITAÇÃO

Não tenhas medo do mundo
Sai para fora mortal conquícola
E no que contigo, mexe bem fundo
Põe o teu olhar então estendido…
Agarra, em tuas mãos, folhas de papel
Agita-as bem perto de teu ouvido
Deleita-te, com seu ataráxico ruído!
Inventa palavras ideais!
Faz delas horizontes triunfais,
P’ra esses folhas vazias, sem sentido!

É vápido, esse teu prazer de vegetar…
Ócio miasmático, simplesmente…
Apanha ar, rasteja e aprende a galopar!

Sai da concha, por favor!
Ela te ensurdece e emudece;
Destrói “muro” de interior p’ra exterior…
Olha a verve que te espera, aflita!
Vibra, com cada gota de água,
Partícula a partícula!
Clama, canta, chora, grita,
Ou delambe-te, oh caracol,
– Ante a cor gema de ovo do sol –
Mas escreve, mortal conquícola!

1989