CISMA DE MORTE
Ao pensar na negra hora que está p’ra vir,
O meu olhar, bem triste e distante ficou;
A minha boca afrouxou – deixou de sorrir,
Bem desejei, tal pensamento repelir,
Mas cisma de morte, minha mente ensombrou…
Meus sentidos à cisma, haviam dito sim,
E ficando por ela, abatidos – sem norte;
Mas será que ao pensar nesse “degredo” assim,
‘Starei apressando, tão mau bocado em mim,
Que neste meu cismar, agoirarei a morte?
É bem o preço que pagamos pela vida!
E dele, nada nos livra, nem até a crença!
Tanto o paga o crente, ateu ou alma perdida,
Nem o perspicaz tem essa hora vencida,
Nem mesmo há força sobrenatural que a vença…
Oh ricos, olhai a desditosa pobreza
E virai vossa altivez em compaixão;
Ponde nos jobs, mais fartura em sua mesa,
Porque duma coisa, podeis ter a certeza:
Jamais se levará dinheiro no caixão!
Oh necessitados e humildes, – quanta dor?–
Sem alguma esperança, ante sorte tão dura;
Crede que, no céu, a vós, depois, o Senhor
Vos contemplará, com glória, muito maior,
Do que, neste mundo, qualquer luxo ou fartura!
Mas será que muito estudar então resulta,
Suor, lágrimas e sacrifícios também?
Adiantarão, nas mãos, os calos da labuta,
Valerá a pena, nesta vidam árdua luta,
Se a morte, pela certa um dia, até nós vem?
Sim, tudo isso adiantará e é de louvar,
Porque se um já “foi”, outro, porém, ‘inda não,
E muitos mais, irão p’rá vida despontar;
Encontrando exemplos, que os façam meditar,
E onde, certamente, muitos os seguirão!
Se é inevitável tal rescaldo da vida…
Se o tributo de se nascer, será a morte,
P’ra quê este meu triste cismar, sem medida,
Nessa triste evidência por demais sabida,
Como me poderá ele dar melhor sorte?
Mais sensato, será tentá-lo repelir,
Já que não me abolirá hora tão fatal;
Transformarei, em lucidez, o meu sentir,
Deixando essa funesta hora, até mim vir,
Como coisa absolutamente natural!...
1988
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