segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CISMA DE MORTE - (O POEMA DA SEMANA- 2011/10/17) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


CISMA DE MORTE


Ao pensar na negra hora que está p’ra vir,
O meu olhar, bem triste e distante ficou;
A minha boca afrouxou – deixou de sorrir,
Bem desejei, tal pensamento repelir,
Mas cisma de morte, minha mente ensombrou…

Meus sentidos à cisma, haviam dito sim,
E ficando por ela, abatidos – sem norte;
Mas será que ao pensar nesse “degredo” assim,
‘Starei apressando, tão mau bocado em mim,
Que neste meu cismar, agoirarei a morte?

É bem o preço que pagamos pela vida!
E dele, nada nos livra, nem até a crença!
Tanto o paga o crente, ateu ou alma perdida,
Nem o perspicaz tem essa hora vencida,
Nem mesmo há força sobrenatural que a vença…

Oh ricos, olhai a desditosa pobreza
E virai vossa altivez em compaixão;
Ponde nos jobs, mais fartura em sua mesa,
Porque duma coisa, podeis ter a certeza:
Jamais se levará dinheiro no caixão!

Oh necessitados e humildes, – quanta dor?–
Sem alguma esperança, ante sorte tão dura;
Crede que, no céu, a vós, depois, o Senhor
Vos contemplará, com glória, muito maior,
Do que, neste mundo, qualquer luxo ou fartura!

Mas será que muito estudar então resulta,
Suor, lágrimas e sacrifícios também?
Adiantarão, nas mãos, os calos da labuta,
Valerá a pena, nesta vidam árdua luta,
Se a morte, pela certa um dia, até nós vem?

Sim, tudo isso adiantará e é de louvar,
Porque se um já “foi”, outro, porém, ‘inda não,
E muitos mais, irão p’rá vida despontar;
Encontrando exemplos, que os façam meditar,
E onde, certamente, muitos os seguirão!

Se é inevitável tal rescaldo da vida…
Se o tributo de se nascer, será a morte,
P’ra quê este meu triste cismar, sem medida,
Nessa triste evidência por demais sabida,
Como me poderá ele dar melhor sorte?

Mais sensato, será tentá-lo repelir,
Já que não me abolirá hora tão fatal;
Transformarei, em lucidez, o meu sentir,
Deixando essa funesta hora, até mim vir,
Como coisa absolutamente natural!...

1988


Sem comentários:

Enviar um comentário