segunda-feira, 6 de junho de 2011

DIA DE FEIRA - (O POEMA DA SEMANA 2011/06/06) - Do livro: "ESTRO DE MULHER"


DIA DE FEIRA


Pela manhã, com sol ainda a medo,
Vendedores se deslocam à feira,
Dispostos, a seus produtos, venderem;
E alguns, em egoísmo de primeira,
Catam o melhor lugar, com canseira,
P’ra com simpatia e algum enredo,
Então, os compradores convencerem:

– Oh menina, não quer comprar castanhas?
“ Olhe estas maçãs, olhe esta riqueza”
– Já viu umas nozes assim tamanhas?–
“Quem quer ovos de galinha do campo?”
– Olhai as minhas couves sem sulfato! –
“Flores para alegrar a vossa mesa”!
– Quem quer comprar peixe fresco e barato?

Todos conseguem arranjar “poleiro”
E a música, també, topa lugar;
Cassetes em barracas, soam alto,
E um ou outro, mais audaz e matreiro,
Não apregoa só, fado ligeiro,
Mas ‘inda canção que fará corar,
Moça solteira, que vá a passar:

– Para as cachopas, muito eu encantar,
(As livres e também comprometidas)
Além de modas fresquinhas – antigas,
Tenho aqui, para vós, neste rico engenho!,
Escutai, a que vos vou pôr a tocar,
E se não gostardes, oh raparigas,
Coisa muito melhor ainda tenho!...

E em dia de feira, também ciganos,
Vendem e a preços muito populares:
Chinelos, sapatos e roupas finas,
Malas, carteiras e montes de panos;
Agora, já não são mais aldrabões,
Quebraram, muitas das suas esquinas,
E conquistaram, nossos corações!

À quarta-feira, aproveito o ensejo,
De. Ao fazer compras, estender o olhar;
E entre mil coisas, eu, atenta, vejo:
Camiões, com bela fruta brilhando,
Onde alguma insegura, à terra rola,
E que p’ra poder matar um desejo,
Co’a apanha o corajoso se consola!

Pessoas passeando outras correndo,
Se desviando das motorizadas,
Dos automóveis e carros de mão;
Sorrindo, quer feios, quer bonitões,
Se vendo pais e filhos de mãos dadas,
Os conhecidos, se saudando, então,
E alguns apertos, além de encontrões.

Cegos, pedindo a bondade de esmola,
Mendigos, chegando sua sacola;
E vejo: (quando os feirantes recolhem,
Que é no término da feira, mais tarde),
Irem os p’la sorte desamparados,
Remexer, em papeis amontoados,
Onde uma grande esperança os invade!

E, depois, (de bruços no varandim)
Vejo da azáfama feiral, seu fim:
Os animais que não foram vendidos,
Regressarem cansados – doridos,
De tantas horas, vítimas do sol,
Da chuva ou neve e aprisionados,
Para poderem ser negociados…

Mais feiras semanais sucederão,
Com os apregoos dos vendedores,
Dos artigos que trazem para a feira;
E a preocupação dos compradores,
Do preço em questão, se regatear,
Porque o conteúdo de cada carteira,
São gotas do suor de trabalhar!

1982


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