O tempo ia passando e eu sonhava
Com a vinda do príncipe encantado;
Como tal, com vinte anos, constatava
Que em Santiago, com ele me casava
Vendo assim, o meu sonho realizado.
Meditei nessa crença popular:
Será lenda ou será mesmo verdade,
Se alguém de quatro folhas, trevo achar,
Boa ventura por certo, irá gozar,
Num porvir da mais plena f'licidade?
III
Meu trevo calmamente lá deixei,
Nesse velho livro, sem o olhar
Sobre o meu doce lar, me debrucei,
E se é que com fadigas me esforcei
Também compensações colhi – a par –
Mas um dia, que estava motivada
E achando na limpeza, alto ideal
Conclui, como altura apropriada,
De queimar toda a velha papelada
Numa fogueira – feita no quintal! –
Pensei nesse ato em si – auto-avisada –
Achando que minha alma, adoeceu;
Porém, como me via realizada
E sem prever do trevo, já mais nada
Então um gesto meu, me transcendeu:
O livro com o trevo nesse dia
Lancei sobre a fogueira, assim sem mais
(Junto a papeis e toda a velharia)
Mal nesse impetuoso ato, eu preveria
O quanto soltaria tristes ais…
É que tão raro achado a calhar, vinha,
Como um comprovativo a arquivar,
De um meu sonhar antigo de mocinha,
E depois quando fosse então velhinha
Seria o meu palpável recordar!
E arrependida, as cinzas contemplei
Sem ver chance de atrás poder voltar,
Desse ímpeto que tivera, me admirei,
Muito no seco trevo pensei, então
Sentindo até vontade de chorar…
Meu trevo de tão doces ilusões
Não mais o pude ver, nem tocar mais;
Lembro as folhas, par’cendo corações,
Punida, se com auto-acusações,
Também com saudades que são demais.
FIM
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