sábado, 31 de dezembro de 2011

DO GRITO AO MURRO NA MESA - Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


DO GRITO AO MURRO NA MESA

Se uma cumplicidade, tem falência

E afrouxam gentilezas e mercês
Pode haver consciente malvadez.
Censura injusta, em vez de complacência­

Há no ambiente, um grito de estridência
Quanto a um dito, de certa sordidez –
E às vezes sob razão, de vãos porquês
Sobre a mesa um murro de irreverência.

Tal grito - assuste ou não quem o ouvir,
Mais o murro - de quem não se contém,
São tidos por soberba e má regrança ;

E reações assim, levam a inferir:
Que melhor mostrará seu génio alguém
Na adversidade, que em plena acordança.

2010

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

INARMONIA - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/12/29) Do livro: (a editar) " DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

INARMONIA


Não pode dar-se à alma, mansidade
Sem ter-se de alegria, um bom reflexo
Antes mesmo um viver triste e complexo
Causará depressão mais ansiedade.

Tende ao carpir de um pranto de saudade,
Pondo o consciente até perplexo
O olhar, sem feliz rebrilho anexo
Porque um sonho, embateu na realidade...

De que importam grandezas de vivência
Ter glória e demais prosperidade
Se a vida, de outros bens, nos dá falência?

E num estado assim de inarmonia,
Não pode dar-se à alma, mansidade
Nem a qualquer ideia, nuca fria.
   

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

DILEMAS EM CONFLITO - Do livro: (a editar)" DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


DILEMAS EM CONFLITO


Se andam em nós, dilemas em conflito
O pobre coração, amargurado
Não consegue ignorar e pôr de lado
Um facto, assim deveras esquisito.

Já que o âmago, não é de granito
Que ao bem, real valor lhe seja dado;
E se chore um destino malfadado
O grande autor de muito triste escrito…

Coração, por dilemas torturado
É como que humilhado e apertado
Com saídas difíceis de alcançar;

E se uma mão amiga ou fiel ombro
Mitigarem um pouco o desassombro
Pode ser o nascer de esperançar!


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

RAZÃO DUM CONTRAMÃO E FINCA-PÉ - (O POEMA DA SEMANA - 2011/12/26)- do livro (n a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


RAZÃO DUM CONTRA-MÃO E FINCA-PÉ

I
Com sacrifício de alto ou baixo gume
Nalguns a sorte é branca e noutros preta
Quanto ao abandonar-se um mau costume.

Levantam-se uns, vão outros à valeta…
E sendo a dependência, essa questão
A cura pode ser, lenta ampulheta.

Em casos tais de urgência de "travão"
Convém não ir na onda da maré
Mas porventura sim em "contramão"

Que isso é como infligir-lhe contrafé,
Passar-lhe um atestado de desmérito,
A um funesto apego, "fincar pé"!
II
Muita mente há, fazendo auto-inquérito
Da real rejeição de um forte vício;
Certa… à retrocedência do pretérito,
P’ra negar-se-lhe o vínculo, no início.

2010  

MERUJINHA - Pintura sobre cartão prensado



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

UM CISMAR EM QUADRA DE NATAL - Do livro: ( a editar) "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


UM CISMAR EM QUADRA DE NATAL

O Natal vai chegando e a chuva fria
Desce das nuvens, às pipas e pipas;
Convidando-me tão matreiras tipas
A fazer-lhes (na rua) companhia.

Lá vou eu, só que o vento em revelia
No meu cabelo, mexe co’as farripas
Vira meu guarda-chuva, expõe-lhe as tripas
E eu até giro e danço, onde não qu’ria…

P’ra mais em quadra assim, e então latente
Um tipo de tristeza é-me imanente
E às vezes até roça mesmo a cisma;

Porque enquanto em alguns, magia avança
Noutros, sem a inocência de criança…
Não há em chaminé, qualquer carisma!...
 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CONCEITOS - (ENTRE QUINTA E SEXTA-2011/12/22) Do livro (a editar)" DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


CONCEITOS

Se há quem seu romantismo não demite
Enquanto no seu peito, chame lhe arde
também ha quem, num ímpeto cobarde,
À própria complacência, dê limite.

Se há quem poligamia, sempre evite
E em prevaricação, não se abastarde;
Há quem o amanhã, creia ser tarde
Para a lascívia alheia – em apetite.

E assim, entre metade do universo
Qu'rendo a monogamia, por direito
E em ondas de Platão mesmo navega;

Outra metade dele, por reverso
Um sério e monogâmico conceito
Ou o negligencia ou o renega…


2009

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PLANTA VENUSTA E LUXURIANTE - Do livro:(a editar)" PROPENSÕES MUSAIS"


PLANTA VENUSTA E LUXURIANTE

Amor que se mantém, sempre constante
É fcomo bela planta, de hirta haste!
Com verticalidade que lhe baste
E a sempre merecer, quem bem lhe lhe cante!

A sempre merecer, que por garante,
Não lhe seque a raiz, nem se desgaste!
E que nocivo vento, nunca arraste arraste
Assim venusto bem, luxuriante!

Que se no peito morre de atrofia,
Um vazio nossa alma, logo invade...
Suscetível de dar- em quantidade,
Penas de solidão, tédio ou fobia

E como a situação, doer não há-de,
Quando fragilizada, uma alma, se acha?
De essência quase exangue, ela se racha,
Azo, a profundas gretas de saudade!?
                                                 
2008 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“CONSERVA” DE AMIZADE - (O POEMA DA SEMANA-2011/12/18) Do livro: (a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

“CONSERVA” DE AMIZADE


Opinião que se apresente opaca,
Ou procedimento de inconsciência
Podem ferir tanto ou mais que faca…

Por isso a mente com boa gerência
Que procura evitar engano e dano
Dará às coisas, salutar coerência.

E à perfídia dirá um não, soberano,
Para evitar incorrer na desgraça
Do derrame de má nódoa, em bom pano.

Seremos todos de igual argamassa,
Ou há uma, mais fraca e outra mais forte?
Sendo a forte a que a perfídia escorraça?

Dando à sinceridade o justo importe,
(Porém sem que o próprio opinar retraia)
Evitando dar na amizade um corte,
Com o bom senso sempre de atalaia!
2008

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

TIRANIAS DUMA MÃE -TORTA - (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/12/16) Do livro: (a editar)" DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

TIRANIAS DUMA MÃE -TORTA


Por bem que um arcabouço, se afigure
Por vezes a vida, é uma mãe torta;
E bem gozá-la, sacrifícios, comporta,
Sofrendo em sua pele, quem descure…

Por muito bom porvir, que nos augure
A todos, sempre fecha alguma "porta";
E quando fracassamos, não se importa
  Nem que a tristeza até, nos desfigure…

Para mais, quando um mal, em nós se alapa
Nunca a vida se inventa em nossa conta,
Nem sempre nos premeia, por lutarmos;

E ao fim de mais ou menos longa etapa
Algo de inexorável, ela apronta,
De ao "reino dos finados" nós passarmos.

                     





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ODE DE MAU ROMEU - (O POEMA DA SEMANA -2011/12/12) Do livro:(a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

ODE DE MAU ROMEU
I

Não é todo o Romeu, que amor bem canta
Antes mesmo, palavras, mal congrega;
E ode mal cantada, do que adianta?

Se mais desilude, do que sossega,
Na baralhada errata, que amontoa...
Quiçá a “pedir”, alvitre ou achega?!

E muito do expressar, de jeito à – toa
– Pouco açúcar lhe pondo e pouco chiste –
Num frouxo romantismo, se destoa

II
Romeu com ode assim, dada em despiste
Ou causa à receptora, um certo susto
Ou então um sorrir insosso e triste…

Porque se ela, aguenta, é a grande custo
A explosão de medíocres bafejos,
Como podres castanhas num magusto.

E de deguste assim, nulos desejos…

sábado, 10 de dezembro de 2011

SOAM ECOS NA TORRE DA ANSIEDADE - Do livro ( a editar) "RELANCES DUM OLHAR"


SOAM ECOS NA TORRE DA ANSIEDADE


A brados, iludindo a realidade
– Entre bom linho, renda e bom cetim –
Agita-se na noite, a dama e enfim
A quimera, recai, na realidade…

Recai em cama fria, uma ansiedade
E um verde, em coração, todo carmim;
Um direito a sonhar feito festim
Um misto de  ventura e de acuidade…

Madrugar de tão lúgubre cadência
À dama agita a lira, mas também
À ficção, a incentiva, com  urgência;

Com a cauda do robe, posta em chão
E crendo lá o amante – que não tem –
Cria conversa a dois - da solidão.

2010


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A UM ENTUSIASTA DA ESCRITA - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/12/08) Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"

A UM ENTUSIASTA DA ESCRITA
I
Devota-te a início, desse império
Mas não creias a trova, airosa lida;
O reino da escrita, é algo bem  sério…
Por mais que a glosa seja divertida,

E essa erudita causa, nos impele
A darmos  até à final instância –
Almudes de suor, da nossa pele.
II
Se temática alguma te seduz
Escol criatividade, bem lhe empilha;
E o leitor prende, a léxico de truz
Com os pontos, a vírgula e cedilha,

E não lamentes, trôpegos degraus
Que muito a eles, é devida aquela volta
De atingir os tais cento e muitos graus!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SAGA DE LITERATO - do livro: (a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"



SAGA DE LITERATO


Infeliz do literato
Que busque a aura sozinho...
Terá pedra no sapato
No percorrer do caminho.

E se ansiar mecenato,
Só com um empurrãozinho,
Sendo p’ra isso sensato
Procurar um bom padrinho.

Porque os papéis na gaveta
Com um empurrão p’rá meta
Auguram melhor porvir;

Mas há quem só se encoraje
Quando se encontra ante a laje
O literato, a “dormir”!


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

MEU SONHO – MINHA QUIMERA! - ( O POEMA DA SEMANA-2011/12/05) Do livro: ( a editar) "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

MEU SONHO – MINHA QUIMERA!


Se na praia, me acha-se sem papel, nem caneta
E sentisse até mim, uma terna musa, chegar
Que honra saber a areia por papel, a mim aberta
E uma pena de gaivota, que me arrastasse o mar
Que honra ser de caneta, alternativa predilecta
Oh que deliciosa exp’riência viveria meu poetar!

E aguardaria que uma onda, bem esperta
Então de ímpeto, viesse o meu poema, roubar
E que o levasse inteirinho e em linha recta
Para a alma, por vezes empedernida do mar
Ah canto, que poderias até ser dócil seta
Ser remédio para o gigante um pouco serenar

E se à noite ao serão, ele quisesse chamar
Para falar de novo nume, sereia a sereia
Ensinando-lhes um novo canto de encantar
Então minha intenção não tinha saído oca
Que honra, espalhada no mar, essência de minha veia
Ah canto, que andarias nas sereias de boca em boca!

sábado, 3 de dezembro de 2011

PROPENSÃO FILOSÓFICA - Do livro: ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


PROPENSÃO FILOSÓFICA


Qualquer glossário, tido por  correcto,
Honra toda a vogal e consoante,
Quer em verbal dicção, então sonante,
Quer num desígnio escrito, bem dileto.

De autor, o quanto baste circunspecto
Isento de intenção mirabolante;
Exaltando o cariz edificante
E vetando o égoísmo, por completo…

Ele sabe que a custo, se perdoa,
Aquele vedetismo - que magoa,
De alguém, que da modéstia, se descura;

E que no ferido orgulho, a mazela
Se a má reminiscências, dá sequela
Num alter ego, abala a estrutura.

2009 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AOS JORNALISTAS - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/12/01) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"

AOS JORNALISTAS


Corajosos “Poetas”, penso em vossos fados,
– Vossas corridas p’ró caso, a horas certeiras –
Ao ver jornais, espalhados ou enrimados,
Nos passeios, para recolha de lixeiras…

Também penso em vós – a vosso “campo” agarrados –
Se entro em lojas ou vou a mercados e feiras,
E olho: drogas, pregos e peixes embrulhados,
Nesses papéis, com “frutos” de vossas canseiras…

Mas o que em vós, mais me faz pensar, realmente,
É saber, que em casas dos campos e cidades,
Vossos jornais, padecem bizarra sentença:

Depois de lidos, são só papel absorvente,
– E p’ra fisiológicas necessidades –
Pondo-lhes um “selo”, de inocente indif’rença…


1979

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A MEU LIVRO - Do livro:(a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

A MEU LIVRO


Que bom saber os meus versos, bem irmanados
Na tua capa, duas portas encorpadas
Se às geadas os poupando, também às nortadas
E da chuva e calor, tendo-os abrigados.

Oh terno relicário de meus grão cuidados
Que tuas fieis portas, quando escancaradas
Mostram quer ilusões, quer verdades, honradas
Pelo meu estro entre elas e de braços dados

E se acaso Mausoléu, amanhã te tornarem
Mãos e olhares ciosos por ti reclamarem
Já teus “lençóis” terão um tom, 'inda mais belo;

Terei “partido” já ; mas o meu estro, esse não,
(Modelo de mulher, p’ra nova geração)
Está nesses “lençóis” *- já da cor de farelo.

* Folhas

                                                        

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

VOO DE CUPIDEZ - ( O POEMA DA SEMANA- 2011/11/28) Do livro: ( a editar)" PROPENSÕES MUSAIS"

VOO DE CUPIDEZ 

No voo da quimera eis o Cupido
Cruzando esse céu verde, da iminência;
Com sorrir fascinante de inocência
Num rosto quanto basta de atrevido

E lá age – lascivo ou divertido
Com asas de sonho, arco de valência;
E às vezes, sua seta, tem tendência
Para um duplo ou até triplo sentido;

Cai bem, ao semi-anjo, a traquinice;
E em si, seminudez, não é momice
Antes, não haverá quem a enjeite;   

E em sua mão, a harpa ou alaúde
Se encanta e incentiva a juventude
Também à anciania dá deleite!

sábado, 26 de novembro de 2011

SÓ PORQUE A POESIA NELA EXISTE- Do livro: (a editar) "RELANCES DUM OLHAR"



SÓ PORQUE A POESIA NELA EXISTE

Sem crer maturidade, uma barreira,
Mas coisa de torná-la mais distinta,
Mantém uma auto-estima, de primeira
Com idade, de duas vezes, trinta.

Sempre de si segura, e prazenteira
E sem que a sua idade a ninguém, minta;
Remédios, só receita bem caseira
E sempre cobre as cãs, a sóbria tinta

É por certo bairrista e  humanista
Se um pouco ateia, bem nacionalista
E paladina do hino: A Portuguesa;

Feita em beletrista, esta mulher lusa
Canta, ri, e chora – em honra da musa,
E bem de íntimo de alma, concerteza!

                              2009/04/20


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ESTILISTA MUSAL, DA VELHA-GUARDA - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/11/24) Do livro: (a editar)" RELANCES DUM OLHAR"


ESTILISTA MUSAL, DA VELHA-GUARDA


Normal é o seu nome e apelido,
E não possui riqueza nem tesouro;
Congratula-se em ser do signo touro
E isso apurar-lhe o sexto sentido.

Se por no idioma seu, o empenho tido
Decerto que incomoda algum calouro;
E de pugnar por ser, digna do louro
Também certas mentes, tem afligido.

E assim da velha-guarda uma estilista
– P'ra alguns, ultrapassada modelista –
Mantém empenhamento especial:

– É de nos tons e linhas de roupagem
Em vez de ultramoderna opção de  imagem,
“Vestir” a musa, com “traje intemporal”…

2009
   
   

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A MORADA DA POESIA - Do livro :( Já editado) "ESTRO DE MULHER"


A MORADA DA POESIA


Com sua bem antiga identidade,
Tem morada, em todo e qualquer lugar;
Só que su’alma na realidade,
Só num lugar, conseguirá morar!

Só nele usufrui de comodidade,
Que ele anda, gira, consegue voar;
E tendo assim cabal idoneidade,
De, com ela, a poesia abraçar!

Pois more a poesia onde morar,
Sempre que su’alma a for visitar,
Logo ela se conhecerá completa;

É que se vê com emoções honrada,
Que uma outr’alma, de su’alma é morada:
O oásis, que é a alma do poeta!


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ELEGÂNCIA POÉTICA - ( O POEMA DA SEMANA - 2011/11/21) Do livro: ( a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

ELEGÂNCIA POÉTICA
I
Todo o poeta em si, é semi-profeta
Mandando as frases ocas, p'lo enxurro
Em prol da escrita, dita predileta.

Mas por vezes, nem dando em mesa, um murro,
Disso, um bom tema ou mote, relampeja
E das musas ele ouve um bom sussurro…

Sorte a sua, se sem que o preveja
Numa porta da mente, soar toque
Surgindo a inspiração – e  de “bandeja.
II
Como em pipo, saltando-lhe o batoque
Então de  “efervescências” há derrama,
E o inspirado logo anda a reboque;

Pois tão inebriante panorama,
– Assim no ar, tão poético nardo –
O ego de bom autor, sempre inflama.

E o escrever, ser-lhe á mais grato fardo
Quanto mais uma frase, mal nutrida
Ele transforme, em bela flor do cardo…

Em frase cabalmente conseguida!

2009
  
                     

sábado, 19 de novembro de 2011

ESCRITOR DE ÁGUA DOCE - Do livro (a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

ESCRITOR DE ÁGUA DOCE


Um escritor, de manso calo e tacto
Que se lance em artigo " boa traça",
Pode, quanto a sucesso, ter negaça ,
Que fez crer, co’o vulgar, ter feito pacto ...

Como ante bela flor, espinho em cato
Por muito que até tente ou mesmo faça ...
Tocada a flor-artigo, se embaraça ,
Dando em espinho-artigo, sem impacto.

Que o erudito teor - de bom garante,
Sai de quem, em “mar alto” bem delega
E faz do papel, barco triunfante;

De forma, que de branda entrega,
Não tem o tal teor p’ra ir avante,
Porque é em“águas doces” que navega.


2009

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CULTURA, EM CORDA-BAMBA - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/11/17) Do livro: (a editar) " DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"



CULTURA, EM CORDA-BAMBA


Dá para crer, inércia ser – caramba
Estar-se em palco, sem cadência artística;
Numa actividade, em nada balística
Mas de quem p’lo vulgar a beiça lamba ...

De quem leva, a cultura à corda-bamba
E lhe acarreta uma fraca estatística;
Fruto de recalcante cabalística
Dum pé torto, que bom sapato camba…

E que deixa a pegada duma escola
Que em vez de um ensinar polivalente
Com rotineiro mestrar, se consola;
II
E em palco, um atuar, não  convincente…
leva a plateia, a palmas, por esmola
Palmas por caridade, unicamente…
      

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

NO PALCO – COMO NA VIDA - Do livro: ( a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


NO PALCO – COMO NA VIDA

Ter humildade em vez de petulância
- Num popular cenário, ou mais  solene -
Após um qualquer auto, que se encene
P'ra o auditório tem, suma importância.

Por isso, dela a toma que exp'rimenta
Leva a crer, igual ser ao próprio arbítrio
Em emoções que aceita ou que afugenta.

Porém se é que no palco, se desmanda
Sujeita-se a ouvir, de qualquer fila
Uma vaia, de pôr a cara à banda
E feita por alguém, que não vacila...

Contudo se o autor se auto-restaura
- Com a tal verosímil humildade -
Seus  créditos fiáveis, reinstaura.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A CONDIÇÃO DO POETA - ( O POEMA DA SEMANA 2011/11/14) Do livro: ( a editar) "PENSAMENTOS (EN)QUADRADOS"


A CONDIÇÃO DO POETA


Disseram-me certo dia,
Que o poeta, esse coitado
Volta-se p’rá poesia
Por não passar dum frustrado.

Sorri, talvez convencida
Mas frustração, no entanto
Dá muita vez, à partida
A um poema, enorme encanto.

Contudo, tal julgamento
À condição do poeta
Motivara-me ao intento
Duma resposta correcta

Respondi, que o é, talvez
Por sentir, como ninguém
A fraqueza e pequenez
Das coisas que a vida tem.

E pelo amargo conflito
De saber que tem razão
Numa mensagem, que é grito
E às vezes, soando a vão...

Ainda pela injustiça
Que de si ouve dizer:
De padecer de preguiça
Ou não ter mais que fazer...

Também pela vasta lista
De apodos, de “nota preta”
Tais como: ser Narcisista
E andar armado, em vedeta.

E por fim, pela agravante
De ser aquele mortal
Tido por extravagante
E ele saber-se normal!


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ANELO- (ENTRE QUINTA E SEXTA-2011/11/10) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"

ANELO


Saber tudo o que hoje sei e renascer
Bom seria, como ponto de partida;
Tudo fazer, na certa conta e medida,
E com todos os meus fantasmas correr…

Pudesse a todo o mundo igual suceder!,
Chances e anelos, em aliança unida!,
Ninguém dono de ninguém, e logo a vida,
Teria um perfil, mais digno de se ver!

Mas o tempo é uma implacável esfera
E o mal, é que adiamos a perfeição,
Como uma coisa que possa ter espera…

Ressuscitar, renascer, não pode alguém,
(P’ra um mundo perfeito, a ideal solução)
Que coisas que a vida faz e a vida tem!...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

MATIZES DE AGUARELAS - (O POEMA DA SEMANA- 2011/11/07) Do livro (Já editado) "ESTRO DE MULHER"


MATIZES DE AGUARELAS

(Autobiografia poética)

Há aguarélicos suores, que acredito
De “pedra mole”, dentro de mim transpirando…
E ao que me agarro, tranquila ou de âmago aflito,
Para, nos muros de meu crânio, ir “afinando”…

Sem cavalete – numa mesa geralmente –
“Pinto” maravilhada e liberta de peia;
E até meu regaço me serve lindamente
Se estiver na montanha, na praia ou na aldeia.

Em pequenas “telas” os outros vou “pintando”
"Auto-retrato-me" leda ou com frustração;
Também entre as masmorras do tédio cismando,
Ou a sair de rede, mito ou rubição…

Se tenho dias, de ser dada ao saudosismo,
– Os meus tempos áureos, todos só frescura-
Aí as minhas telas, primam pelo lirismo,
Ou então saem-me sóbrias, sem terem cura…

Quando acho o meu sonho tema prioritário,
“Pintar” a imortalidade é tarefa ingrata;
Que ante a cisma ou depressão, desse imaginário,
Sempre acabo no tender à “pintura abstracta”

Outras vezes (quando minha alma dentro berra,
Perante este cosmos, em que estou inserida)…
Evidencio-me de pés firmes em terra,
Com uma “pintura" realista da vida!

Se me volto p’rós encantos da natureza,
(Dessa amiga, toda ela popularidade)
Redunda surpresa, seguida de surpresa,
Que ganho em pitoresco e versatilidade!

E (ao compasso de emoções fortes ou singelas)
Lá vou cumprindo de bom grado, um dom inato,
Dando a plástica das letras às minhas “telas”,
Sem ídolos, sem um mestre e sem mecenato!



sábado, 5 de novembro de 2011

O POETA - Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"

O POETA


Esse, que é bem das palavras o artista,
– E que comanda o seu sonho, acordado –
Está a sério fado condenado:
A verem-no como que um masoquista

De grandes emoções, procura a pista,
Esse seu peito, altamente exaltado;
E ânsia de maiores fica a seu lado,
Desde logo o momento que as conquista.

Sem ter emoções, o que será dele?!
Sem sentir dores, sem dramas na pele,
O poeta achará sua alma pobre…

Melhor será sentir muito que pouco
Nem que até mesmo lhe digam que é louco,
Louco – por arte tão sublime e nobre!




quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ALMA DE AMARROTADO PAPELUCHO - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/11/03) Do livro :( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"


ALMA DE AMARROTADO PAPELUCHO



Mesmo um amarrotado papelucho
Que nada tem em si, que se lhe exija...
Pode albergar por certo, bom debuxo!

Conter um valimento de cornija
Imponente, pragmática e correcta;
Autêntica, presente, e  sempre rija!

Aquela inteligência, bem selecta,
Que apenas no acertismo, entã se versa
Sempre à sombra da lógica dileta!

Ser pertença de alguém que - se em conversa
No que é paradoxal, jamais se empenha
E sempre no bom senso, se alicerça!

De quem da persistência faz resenha
Em vez de se ficar p’lo comodismo...
E que se ao monte vai, é p’ra ter lenha
E atear-lhe um ciente iluminismo!

2009

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

POETA A-SÉRIO - do livro ( a editar) " DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

POETA A-SÉRIO

 
Entre a parte real e a que é onírica
Não poderá haver comum factor;
Mas todo o  poeta a-sério - ágil condor
Por entre nuvens voa, em boa lírica!

 E quer profissional, quer amador,
Tanto lhe valerá, p'ra a panegírica.

Importam argumentos bons,  em uso
P'ra de um verso o nascer, enobrecido;
Porque mero versículo, abatido
Será o equivalente a tento escuso...

Sob pena de - assim tão mal nutrido
No beletrismo, entrar como um intruso.

2009

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ENSAIO DE AUTOR- (O POEMA DA SEMANA - 2011/10/31) Do livro ( a editar) "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

ENSAIO DE AUTORI
Todo aquele abnegado autor, que ensaia
Num inferno ou num Céu, decerto que age
Como onda decidida, que se espraia.

Levando-o a crer, que inflige ultraje,
Ao próprio pundonor - correndo em “calha”
Se à musa, que encoraje, não reaje.
II
E se é que anda, no fio da navalha
Toda a sua acalmia, é aparente;
Chegando a travar mesmo, auto- batalha.

E gravosa se houver perda iminente,
Podendo mesmo o autor, considerar-se
Como que sendo só, dez reis de gente…

Se terá que assumir-se e não negar-se
Sua auto-raiva pode não ser vista;
E se o ar natural será disfarce
Também incentivo é, a que persista!

2008 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MEA CULPA - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/10/27) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


MEA CULPA


Uma ânsia de repouso, não a nego,
Que ando até, carenciada de sesta;
Só que tal lazer, no fundo, me empesta:
Cérebro não paro e olhos não prego…

Oh que pesada carga que eu carrego!...
Tréguas versos meus, não sature a besta;
Mais suor, para a minha pobre testa,
Adoráveis ladrões do meu sossego?!.

A culpa é toda minha, eu a confesso,
Pois não quero o meu estro ferrugento,
E sabendo que os gostos têm preço...

Todavia, à carga, à carga que aguento!,
(Já que sem ela, até me desconheço)
Mercê das compensações que exp’rimento!


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DESINSPIRAÇÃO - Do livro (já editado) "ESTRO DE MULHER"


DESINSPIRAÇÃO


Com o metro fremente, na ponta dos dedos,
Com um rol de temas, que há muito eu amealho,
Topo-me no triste papel dum espantalho:
Sentirão as musas, de mim repulsa ou medos?

Quem me rogou pragas, ou quem me fez bruxedos,
Que da minha penas, só surge, hoje, “cascalho”?
Camaradas poetas, somos um frangalho…
Mas quem nos mandou, escalar estes rochedos?...

Desinspiração, que pesada chicotada…
Que medalha de cortiça que a gente tem…
Uma criatura, ou fica louca ou frustrada…

Mas haverá na terra, sempre ledo alguém?
Depois do sol, pode vir chuva ou trovoada…
Esta vida; é um sobe e desce, ela é um vaivém!...




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A UMA FLOR QUE EM MIM NASCEU - ( O POEMA DA SEMANA - 2011/10/24) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


A UMA FLOR QUE EM MIM NASCEU


Pois se até mesmo no rude muro, nasce a hera,
Porque não haverias de nascer em mim, afinal?
Se tinha p’ra te dar, toda a minha primavera,
Se, no meu peito, oh flor, havia seiva vital?

Porque não haverias tu, de, em mim, nascer,
( E nesse bem distante Abril) porque razão?
Se já coisas do mundo, faziam comigo mexer,
Se eram já autoras, de tanta minha meditação?

(Se já entendia, o carisma, das coisas naturais,
E sabia, o quanto a solidão é triste companhia…
Se já encontrava razões, p’ra tantos de meus ais,
Se já agarrada ao sonho ou quimera adormecia?!....

Porque não haverias de nascer em mim, oh flor,
Se acontecia, que meu olhar, em tudo te via,
E meu âmago, podia ser teu escravo e senhor?...
Tu tinhas mesmo de nascer, em mim, oh poesia!

E escalaste, comigo, montanhas de lenda e verdade!
Falei-te., do alvorecer da vida e seu anoitecer….
E (além do quanto é bela, mas triste a saudade)
Do vale de lágrimas, que o riso pode esconder…

Fui afinando minhas cordas vocais, p’ra te cantar,
Oh flor, (que o teu encanto me emociona ou serena)
E quando vires, no meu rosto, uma lágrima rolar,
É por achar, que nasceres, em mim, valeu a pena!

1991

sábado, 22 de outubro de 2011

ANTE UMA FOLHA DE OUTONO - Do livro ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


ANTE UMA FOLHA DE OUTONO


Na verdade, o bem, nem sempre nos dura,
E muitas vezes, é por demais, breve;
Chega até nós e como folha leve,
Voará, dando lugar à amargura…

Ai que saudades da minha frescura,
Ver no meu espelho, esses encantos de Hebe,*
Mais do que ontem. Hoje minh’alma percebe,
Que remar, contra a maré, é loucura…

Será que, tal como eu, tu folhinha,
Também já lidaste com a quimera,
Pensando que teu Outono, não vinha?

Calendário das vida, quem me dera,
Que isto, fosse do sonho partidinha,
E acordasse, na minha Primavera!

1991

* Deusa da mocidade


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

MELANCOLIAS DE OUTONO - (ENTRE QUINTA E SEXTA - 2011/10/20) Do livro: ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


MELANCOLIAS DE OUTONO


Ah versos moços, como tão belo seria,
Possuir hoje, a congratulante emoção,
De edificar-vos (já que moça me sentia)
O meu verdor, a vosso verdor, dar a mão!

Mas minh’alma, esta patética cotovia,
Vendo que há muito, eu deixara de ser “botão”,
Dá tal melancolia, a sua sinfonia,
Que eu não preitearia, vossa condição!...

Sou no meu Outono, tal qual a flor murchando,
Ao menos, que uma gota de “orvalho” me dota,
A musa sublime, rolando e me inspirando!...

Tão clara, nela transparece uma saudade…
Ah versos moços, sabei que essa clara gota,
É uma lágrima, pela minha mocidade!

1989

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

AO FLAMEJAR DUM CARME - Do livro (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"


AO FLAMEJAR DUM CARME

Se algo há que o mau humor em mim desarme
– De uma forma, por certo bem subtil –
É ouvir declamar, sentido carme
Alguém, com carismático perfil

Nem mais importa, para cativar-me,
Do que o cumprir de intento tão gentil;
Nessa eclosão assim de um puro charme
Com flamejos, dum estro assaz febril.

E na voz de fulano ou de  beltrano,
De um popular ou mesmo de um pedante–
Mais me importa é saber-lhe empenho sano;

Logo, um tal desempenho, assaz brilhante,
- Dá no meu mau humor, um tal abano
Que  faz bom-humor, num breve instante.

             2009               

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CISMA DE MORTE - (O POEMA DA SEMANA- 2011/10/17) Do livro: (já editado) "ESTRO DE MULHER"


CISMA DE MORTE


Ao pensar na negra hora que está p’ra vir,
O meu olhar, bem triste e distante ficou;
A minha boca afrouxou – deixou de sorrir,
Bem desejei, tal pensamento repelir,
Mas cisma de morte, minha mente ensombrou…

Meus sentidos à cisma, haviam dito sim,
E ficando por ela, abatidos – sem norte;
Mas será que ao pensar nesse “degredo” assim,
‘Starei apressando, tão mau bocado em mim,
Que neste meu cismar, agoirarei a morte?

É bem o preço que pagamos pela vida!
E dele, nada nos livra, nem até a crença!
Tanto o paga o crente, ateu ou alma perdida,
Nem o perspicaz tem essa hora vencida,
Nem mesmo há força sobrenatural que a vença…

Oh ricos, olhai a desditosa pobreza
E virai vossa altivez em compaixão;
Ponde nos jobs, mais fartura em sua mesa,
Porque duma coisa, podeis ter a certeza:
Jamais se levará dinheiro no caixão!

Oh necessitados e humildes, – quanta dor?–
Sem alguma esperança, ante sorte tão dura;
Crede que, no céu, a vós, depois, o Senhor
Vos contemplará, com glória, muito maior,
Do que, neste mundo, qualquer luxo ou fartura!

Mas será que muito estudar então resulta,
Suor, lágrimas e sacrifícios também?
Adiantarão, nas mãos, os calos da labuta,
Valerá a pena, nesta vidam árdua luta,
Se a morte, pela certa um dia, até nós vem?

Sim, tudo isso adiantará e é de louvar,
Porque se um já “foi”, outro, porém, ‘inda não,
E muitos mais, irão p’rá vida despontar;
Encontrando exemplos, que os façam meditar,
E onde, certamente, muitos os seguirão!

Se é inevitável tal rescaldo da vida…
Se o tributo de se nascer, será a morte,
P’ra quê este meu triste cismar, sem medida,
Nessa triste evidência por demais sabida,
Como me poderá ele dar melhor sorte?

Mais sensato, será tentá-lo repelir,
Já que não me abolirá hora tão fatal;
Transformarei, em lucidez, o meu sentir,
Deixando essa funesta hora, até mim vir,
Como coisa absolutamente natural!...

1988


sábado, 15 de outubro de 2011

A FONTE DE ESTRO- Do livro ( já editado) "ESTRO DE MULHER"


A FONTE DE ESTRO


Que sensação, de indescritível alegria,
Levar minha bilha, a essa genial fonte,
(Ante sol, chuva, neve ou forte ventania)
Enchê-la e logo olhar em frente o horizonte!

Poder dessa água beber, com grande euforia,
E sem que com uma indigestão, me confronte;
Que ela é prodigiosa – jamais me enfastia,
Não havendo mesmo, quem defeito lhe aponte!

Água imaterial, que entra em tanta garganta,
Corre, bate à porta da alma e a levanta,
Indo com ela, na nossa mente mexer;

E quando o sangue, nos parece fervilhar,
Tal água, mostra bem, seu subtil milagrar:
Sai p’la nossa mão, virando tinta a correr!...

1991


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MOMENTOS… (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/10/13) Do livro :( a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"

MOMENTOS...

I
Por muito que o escrever me seja assíduo
Se para breves tréguas, eis que  pauso,
De pronto certa dúvida, em mim causo:
Se validar ou não, banal resíduo…

E se crer ou não ser digno de aplauso
O extremista pensar dum indivíduo…
II
O temer, que o absurdo não esbarre
Neste estro meu – deveras específico
Anseio que - mais grave ou mais pacífico
Jamais ninguém por seu, o afirme e narre…

P'ra além de ter um medo dolorífico
Que o cinismo na  musa minha, escarre…


2010

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

RETRATOS A NU - Do livro: (a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"


RETRATOS A NU


Meus versos, são imagens, são retratos
Desta minha alma, neles posta, nua;
Toda viva emoção, real e crua
Com valores concretos e abstractos.

E sem ter pejos falsos ou baratos
Se acaso na quimera, ela flutua
É vê-la uma criança, que ora amua
Ora com a coragem, faz contratos.

Alma que vai crescendo, ante lições
E mais de suas próprias deceções
Que de esplendores, risos e sucessos;

E da condição sua, o mote glosa
Inteira, nua e crua, (eis como posa)
Sem receio de expor os seus avessos.


1997

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

CHAMEI PELA PROVIDÊNCIA - ( O POEMA DA SEMANA -2011/10/10) Do livro : ( já editado) " ESTRO DE MULHER"

CHAMEI PELA PROVIDÊNCIA


Dispus-me a olhar o mundo, ao redor,
E grande tristeza me assolou,
Por ver tanto mal em evidência;
Minha alma, toda ela se enlutou;
E então, chamei pela providência!

Vi pobres, sem terem pão nos lares,
E com filhos, ano-a-ano a surgir;
(Sem cama, pernoitando no chão)
Logo, pedi ao céu p’ra intervir,
Rezando, com fé, minha oração!

Pus os olhos no século vinte,
E vi tanta fraqueza, em rapazes,
E tantas meninas a se entregarem…
Que pedi ao céu, forças capazes,
P’ra eles, sua vida mudarem…

Vi tanta discórdia, em nações…
Irmão, sendo inimigo de irmão;
(Ante guerra fria, sangue quente)
Por isso e com toda a devoção,
Rezei, para não morrer mais gente…

Olhei doença, flagelo, mal,
Pensei nos acidentes de estrada,
E em tanto azar e pesar profundo,
Que roguei ao céu, (esperançada)
Para acabar com a dor no mundo!

Mirei prados, pomares e vinhas,
Neles, tudo a chuva destruindo,
Me causando um dó de consciência…
E (ante a esp’rança me invadindo)
Então, chamei pela providência!...

Cem vezes mais, lhe fiz chamamento,
Fazendo da minha fé, aposta,
Para tantos males, do irmão meu;
Mas, no silêncio, achei a resposta:
– Até Deus, que é Deus… também sofreu!!!
1970

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

QUANDO HORAS-A-FIO, EM VOZ ACTIVA - ( ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/09/06) Do livro : (a editar)"ENTRE O ANTO E O ACANTO"


QUANDO HORAS-A-FIO, EM VOZ ACTIVA


Por vezes faço à alma, a oferenda
De horas-a-fio, pôr-me em voz activa,
 Em solitária recita inventiva
E em que apenas meu estro, a bem acenda!

Sou assim mesmo – já não tenho emenda
Usto de alma e mente em paz acertiva;
E só com a garganta em carne-viva
Pausaria – e com auto-reprimenda…

Um virtual supor; indicativo
Dum bem, dado em abuso e assim nocivo,
Dum sabor, transformado em dissabor…

Menos mal, como hipóteses apenas;
E as horas que dispendo em cantilenas,
São-me  de afinação, atos de amor!

                                                                          2009

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MEDITAÇÃO - (O POEMA DA SEMANA 2011/10/03) Do livro: "ESTRO DE MULHER"

MEDITAÇÃO

Não tenhas medo do mundo
Sai para fora mortal conquícola
E no que contigo, mexe bem fundo
Põe o teu olhar então estendido…
Agarra, em tuas mãos, folhas de papel
Agita-as bem perto de teu ouvido
Deleita-te, com seu ataráxico ruído!
Inventa palavras ideais!
Faz delas horizontes triunfais,
P’ra esses folhas vazias, sem sentido!

É vápido, esse teu prazer de vegetar…
Ócio miasmático, simplesmente…
Apanha ar, rasteja e aprende a galopar!

Sai da concha, por favor!
Ela te ensurdece e emudece;
Destrói “muro” de interior p’ra exterior…
Olha a verve que te espera, aflita!
Vibra, com cada gota de água,
Partícula a partícula!
Clama, canta, chora, grita,
Ou delambe-te, oh caracol,
– Ante a cor gema de ovo do sol –
Mas escreve, mortal conquícola!

1989

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VERSOS RETIDOS - (ENTRE QUINTA E SEXTA- 2011/09/29) Do livro:(a editar)"ENTRE O ANTO E O ACANTO"


VERSOS RETIDOS
– Ao leitor –


Se julgas que uso a pena, com a ideia
De mostrar-te dons, na arte de escrever,
Não tenho tal intento, podes crer.
Em mim, não há vaidadae, assim tão feia...

É que não posso ver minha alma cheia,
De potenciais rimas, a “nascer”,
E ficar lesma ao sol – nada fazer,
Enquanto há musal seiva, em minha veia.

E se em meu reportório versos tenho
Decerto p'ra teus olhos, bom, manjar
Porém nunca o serão porque os retenho;

Vaidade em mim, talvez só neste aparte:
- E disso, não queiras criticar -
De bem retê-los - minha maior arte.


1984

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CIGARRA E FORMIGA - Do livro: "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"

CIGARRA E FORMIGA


Com alma entregue às cordas da guitarra
Eu sou uma cigarra, que te canta
Sem temer põr-me rouca da garganta
Fazendo então da vida, doce farra.

Porém - a par de ser assim bizarra -
Sou também formiga, em labuta santa
E que com diligência, da que espanta
Hoje guarda alguns versos e os não narra...

E de um assim agir, eis a razão:
Não te quero induzir sofreguidão,
Mas que meus versos leias de devagar;

Por isso, até vou dar-te o meu palpite,
Reserva lá um pouco do apetite
Para alguns que acabei de te guardar.

                                                                            1991
 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A ANTERO DE QUENTAL - (O POEMA DA SEMANA 2011/09/26) do livro: "ESTRO DE MULHER"

A ANTERO DE QUENTAL


Essa tua barba, tão majestosa e hirsuta,
A defendeste com “garras” bem afiadas,
Transformando, tua existência numa luta…

E (por estratégias, tão a peito levadas)
Os teus ideais pátrios (teus grandes suspiros)
Eram gritos, em tuas prosas panfletadas….

Ah idealista bem “alto” e “gordo” de embirros…
Ah dócil Mestre, tão propenso a azeda gana,
Quantos foram, teus inexoráveis espirros?

P’ra uns, sacana, outros, a pessoa mais sana;
Umas vezes crente e temente, outras ateu,
E tantas, um sedente da paz de Nirvana!

De qualquer forma, honorável epicureu!
Que davas a tua alma, sã vitalidade,
Atarefando-a com as lides de morféu!

E por tua inaudita sensibilidade,
O pitoresco pouco ou nade te dizia,
Amando bem mais as sombras, que a claridade…

Se nunca ânsia de fama, confessaste um dia,
Quantas outras ânsias, deixaste transbordar,
Fruto de tua madura filosofia?

Com o teu tão desenfreado “galopar”,
(Consciência em conflito e pensamento exigente)
Não admira, que à depressão fosses parar….

Mas (quer assim contigo mesmo intransigente)
Ou co’os outros, orientador de pulso forte)
A tua barba, veneraste realmente!

Só que a certo ponto, ficaste tão sem norte,
(Com a tua alma de tal modo comprimida)
Que acabaste, Antero, por encontrar, na morte,
O melhor de todos os ideais de vida!

1991

sábado, 24 de setembro de 2011

A UM INICIADO ARTICULISTA - Do livro:"DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

A UM INICIADO ARTICULISTA

Faz por bem te embrulhar na tua lida
Que irás expor-te aos olhos do mundo;
E cria um reportório – se fecundo –
Deveras surpreendente, na medida

P’ra isso, bons preceitos introduz
Dando nalgumas coisas, certo abano
E até que alcasnces mesmo, ideias-luz

Não sejas do marasmo, entusiasta
Mas a casos pendentes, dá vigor;
E - crendo o narcisismo enganador-
Do auto-deslumbramento, sempre afasta.

Quanto às informações de mais fiasco,
Fá-lo sempre, de modo imparcial;
E dos alvitres teus... "Moita-carrasco"!

2009

  

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

AO POETA - entre quinta e sexta-2011/09/22) Do livro "ESTRO DE MULHER"


AO POETA


Agarra sempre a inspiração, poeta,
Senão podes torná-la foragida;
Recusa-te, a fazer-lhe despedida,
Não a queiras deitar, nunca à sarjeta…

Sorri-lhe, mesmo que até obsoleta!,
Mesmo que até te surja denegrida;
Deixa-a ser, como ela é: Assumida,
E bem retrata a sua silhueta!

Se ela é digna de ti, tu de ela és,
Luta por ela, ajoelha a seus pés,
E agarra-a firme, nessa tua estrada;

Que eu já a abandonei uma vez, sim,
E quando a “campainha” soou trrim,
Era ela, era; mas “mascarada”...

1997


terça-feira, 20 de setembro de 2011

A UMA VELHA LANTERNA - Do livro: "ENTRE O ANTO E O ACANTO"



A UMA VELHA LANTERNA


Quantas lágrimas oh velha lanterna, viste rolar?
Não careces falar, pois não constitui sigilo
É lógico que esse homem até então mais tranquilo
Apelasse a ti, na sua derradeira batalha, a travar!..

Mas de que estratégias te servirias, p’ró ajudar?
Como o poderias, sua velha e fiel amiga, naquilo?
Se já não viam teu crepúsculo os olhos de Camilo
Se eles que salutares foram, só poderiam chorar?

Como o poderias, se o destino lhe fôra adverso?
Se lhe tinha arremessado a cegueira, como lança,
Par’cendo incomodado, com todo o seu sucesso?

Mas logo após o suicídio do Mestre, sentiu-se riu
E vendo o “peso” de seus escritos, na balança
Concedeu-lhe o dom da imortalidade, como troféu!


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A BOCAGE (O POEMA DA SEMANA - 2011/09/19) Do livro: "ESTRO DE MULHER"


A BOCAGE


No palco da vida, foste cavando abismo,
Revestindo a prosa do mais grosso cotim…
Mas como essa tua alma continha lirismo!

Como ela usava o mais paladino cetim!
O mais magistral nume e sensibilidade!
Como ela, tanto chorava no camarim…

Como, por ti, se constrangia de verdade!,
Dessa tua vida, em corda bamba, sem rede:
Dos jogos, a boémia e amor, em liberdade…

Parcos recursos, e dessa Índia tanta sede…
Mas ante a ideia de gentes desconhecidas
Que dilema esse teu, entre a espada e a parede…

Se, em Goa e Damão te deste a bélicas lidas
Que ventanias, te levaram para Macau,
Oh desertor, das mil e uma ânsias incontidas?

Fortes torrentes, para tua débil nau,,,:
O amor à pátria, te fazendo soluçar
E os vícios a te arrasarem, oh Galalau…

Terias mesmo que a teu país regressar,
Quanto cansaço em ti e ainda uma criança…
Vinte e cinco anos só, poderias mudar!

Se a nova arcádia, te dera aval de confiança,
Que pena, a tua satírica prosação,
A tua musa, bem mais picante que mansa…

Mais pena, esse teu desaire sem compaixão…
Oh Bocage, quer tu brincaste com o fogo,
E de Pina Manique, não viste perdão…

Entre masmorras algentes, tu viste logo
O resultado de teu tão dúbio viver,
Em vai as lágrimas, as musas doces e o rogo….

Já não podias, teu remorso combater…
Tu tinhas maltratado, teu próprio destino,
E era tarde Bocage… tinhas de sofrer…

(Ermo de mulheres – musas de verso fino,
Um presidiário, com suores febris…
Um palhaço esfarrapado, Elmano Sadino…)

Ao menos, que “limaras” teu marco infeliz,
Que nos conventos, conheceste o serenar,
Foram calmantes, p’ra teus passados Abris….

Mas e depois? Como irias teu pão ganhar?
Sem emprego, qual não seria a tua dor?
E p’ra mais, com tua irmã p’ra sustentar?

Nem mesmo, te agarrando como explicador,
Nem mesmo assim, superaste tua desdita
Que chegaste a conhecer, miséria de horror…

E quando a ideia de suicídio, te crepita,
Dela te salva, o teu espírito cristão!
Teu amor a Deus! Tua devoção bendita!

A fieis amigos, abres teu coração,
(De curar mazelas, ávido como lobo)
Te mitigam: miséria, fome e frustração….

E ante a chegada da doença, ainda tão novo,
Arrasando-te a fé, duma vida diferente,
Concluis, ter feito, na vida, papel de bobo…

Crês. Ter sido do Céu, sacrílego inclemente,
Que por tal, te dera a paga merecida…
De ti mesmo, és um inimigo irreverente…

Raivas de poeta-palhaço, alma dorida
Percepção da hora final, batendo à porta!
Cabeça quente, de criatura empedernida….

Porque, oh simbolista do amor e sorte torta,
Na alma da tua alma, teu maior alento,
A tua maior esp’rança, não estava morta!

Os teus tão sentidos versos, esse portento,
Iriam surgir nos astros, tinhas razão;
São obras-primas, de real deslumbramento!
Os autores da tua canonização!

1992

sábado, 17 de setembro de 2011

POETA DE INTERVENÇÃO - Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

POETA DE INTERVENÇÃO



De um gole e trago, dado de uma vez
Parte o poeta – avisado de urgência –
Disposto a interventiva insurgência
Porém com mais de ordeiro, que soez.

Quer numa escrita, ou oral entremez
Quer no panfleto ou canto de valência
Reprova exploração e prepotência
De algum do patronato mais burguês.

Paladino, de férreas convicções,
– Bem patentes, perante intervenções –
A graves represálias, que se arrisca;

E quer por verso, prosa, ou por panfleto
Por vezes chega a casa, de olho preto
Numa fúria, que quase faz faísca!


2009  

                     

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

POETA QUE ENJEITA LOURO - (ENTRE QUINTA E SEXTA -2011/09/15) Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"


POETA QUE ENJEITA LOURO


Também há muito poeta, a enjeitar louro,
Aspirando só, bem honrar o mote;
Nem que um certo extremismo até denote
Ou arriscando mesmo, o próprio “couro”.

Os artigos do mais festivo “estouro”
Por vezes, põe em monte, num  caixote;
Mesmo a cada conjunto de um pacote,
Destrinça bem plaquet, do que é bom ouro,

Quanto mais comum bem, 'inda mais justa,
Lhe chega a musa, em rasgos de ideal,
E um tema assim, a veia mais lhe adusta;

Por isso, de tais versos, um sinal,
E em que algo melhorou à sua custa,
De “louro” algum, terá prazer igual!
l

2009
                      

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O SONHO DO POETA - Do livro:"DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"



O SONHO DO POETA

Sonha arranha-céus ter, feito em boa poesia
– Autêntica, altaneira, plena de sentido –
De banais versos, dá como tempo perdido
E inseguros tijolos os crer – mera utopia...

Ambição doentia  e prazer descabido...
Que dessa obra assim, o poeta arranjaria
A tal arranha-céus, cair co’a ventania,
E ele ficar por baixo, estirado ao comprido...

Crê coisa muito firme, a matéria poesia,
Dando em morosa obra e com complicação
Não bastando no metro e rima usar rigor;

Porque exige ousadia - tal literacia -
Ciência - quanto basta- carga de razão,
Criatividade sã e  “argamassa” interior!

1990

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

UMA ALIANÇA DE FAIANÇA- (O POEMA DA SEMANA- 2011/09/12) Do livro: "DEAMBULANDO POR CAMPOS BIOGRÁFICOS"

UMA ALIANÇA DE FAIANÇA


O poeta fez aliança de faiança, com a musa
Sempre pronta a pôr-lhe à prova a sensibilidade
Lançando-lhe refinada seta embebida em inspiração
E acertando-lhe no cérebro, (começo da veia poética)
Que assim dilatada com a tão ditosa carga inspiradora,
Expande-se por toda a restante componente física e psíquica,
Levando-o a aperceber-se dessa musal e maravilhosa benesse,
E dando voltas e reviravoltas, com sentido de responsabilidade
É que ele vê na poesia um acto do mais sublime respeito;
Repensa-a com toda a ternura e passa noites em claro
Abdica de muita coisa que carece, para se lhe dedicar;
A musa se contente mete-lhe o braço com concomitância,
E sendo de noite com intenso luar, acabarão por dançar.

Mas se por qualquer razão o nume do poeta fraqueja
Ela ordena e grita-lhe, como tendo-o por débil criança
E até mesmo por vezes, dá-lhe um impulsionador abanão
Que o animará a cumprir tudo o que ela lhe exige ou deseja

O sorriso da musa é um importante voto de confiança.
E por isso, ele tem -lhe tanta admiração, quanto apreço;
Mas ela só não quer que ele deixe a poesia no peito hermética
Tenha muito de verdade ou meramente mito ou magia
E seja clássica, moderna, exótica rebelde ou eclética;
Há que ele extravasá-la, deixando-a em papel impresso
Essas linhas porque é composta e posta nesse papel
(Sobre uma mesa, um colchão, no fundo dum cadeirão
Ou colando o papel ao vidro duma varanda, ou janela)
É o fruto do acto inspirador, que implica um vero dedicar
E se tantas vezes com os pés assentes em robusto soalho
Outras tantas no asfalto enregelado ou demais adustente
Ou com eles, sob um silvado, um lamaçal ou bloco de gelo.

É a isso quiçá, que o poeta deve maior portento num verso;
Que no tempo gasto em busca dum melhor conforto pessoal
A musa poderá “partir”, para cumprir outra inspiradora valia,
E na volta ele, dela colher uma aura musal, menos profunda.

2008